Resumo A noção de defesa alimentar surgiu nos EUA após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, refletindo a ideia de que o setor alimentício constitui uma infraestrutura crítica para a segurança nacional e que o sistema alimentar deve ser defendido contra atos intencionais, motivados por razões políticas ou ideológicas, que possam causar danos em larga escala à saúde pública ou à economia. Este estudo baseia-se em fontes documentais primárias sobre defesa alimentar, incluindo diretrizes governamentais, leis, normas e regulamentos emitidos principalmente nos EUA, bem como em fontes bibliográficas secundárias relacionadas ao tema, e utiliza insights da teoria da securitização para mostrar que discursos, normas, diretrizes e práticas de defesa alimentar se conectam a um processo de construção social de ameaças e riscos, vinculado aos quadros de bioterrorismo e biodefesa, submetendo o setor alimentício a um processo de securitização. Com base nesta análise, buscamos contribuir, em primeiro lugar, aprofundando a problematização da defesa alimentar, adicionando ao debate uma dimensão política e de segurança. Sem essa discussão, argumentamos que não é possível compreender, de forma rigorosa e precisa, o núcleo definidor da defesa alimentar e suas especificidades dentro da constelação conceitual da proteção alimentar. Em segundo lugar, ao recorrer ao caso da defesa alimentar, esperamos contribuir empiricamente para ilustrar uma versão ampliada da securitização, chamando a atenção para a importância de uma visão mais eclética e integrada sobre os aspectos discursivos e não discursivos e as diferentes lógicas que operam na construção social da segurança.
Abstract The notion of food defence emerged in the USA following the terrorist attacks of 11 September 2001, reflecting the idea that the food sector constitutes a critical infrastructure for national security and that the food system must be defended against intentional acts, motivated by political or ideological reasons, that could cause large-scale damage to public health or the economy. This study draws on primary documentary sources on food defence, including government guidelines, laws, norms and regulations issued mainly in the USA, as well as secondary bibliographic sources related to the topic, and draws on insights from securitisation theory in order to show that food defence discourses, norms, guidelines and practices connect to a process of social construction of threats and risks, linked to the frameworks of bioterrorism and biodefence, subjecting the food sector to a process of securitisation. Based on this analysis, we aim to contribute, firstly, by deepening the problematisation of food defence, adding to the debate a political and security dimension. Without this discussion, we argue it is not possible to understand, rigorously and accurately, food defence’s defining core and its specificities within the conceptual constellation of food protection. Secondly, by resorting to the food defence case, we hope to contribute empirically to illustrate an expanded version of securitisation, drawing attention to the importance of a more eclectic and integrated look at the discursive and non-discursive aspects and the different logics that operate in the social construction of security.