RESUMO A E. F. Mate Laranjeira, com bitola de 60 cm e extensão máxima de 68 km, foi construída no oeste do estado brasileiro do Paraná, na segunda década do século XX, em caráter privado, pela grande empresa que explorava, nessa época, os bosques nativos de erva-mate (Ilex paraguayensis), situados no extremo sul do vizinho estado de Mato Grosso. A via destinava-se a contornar as Sete Quedas, que interrompiam a navegação do rio Paraná na altura do paralelo 24º Sul, e, assim, facilitar o transporte da erva em direção ao principal mercado consumidor: a Argentina. Ao conectar dois trechos navegáveis do rio Paraná, a ferrovia atraiu a atenção dos dirigentes do estado do Paraná e do Estado nacional brasileiro, para os quais ela poderia favorecer a ocupação e o aproveitamento de toda a região, até então considerada remota e selvagem. Neste artigo, busco analisar a EFML como integrante da categoria das ferrovias industriais, abordando a história de sua construção, suas condições técnicas de operação e também a disputa em torno de sua abertura ao tráfego público. As fontes incluem legislação, periódicos, relatórios governamentais, dados estatísticos e documentos da própria empresa, além de relatos de viajantes e outros trabalhos não acadêmicos. A principal conclusão é a de que, embora útil para os propósitos privados, a ferrovia, devido a suas limitações intrínsecas, não estava apta a desempenhar um papel público de grande relevância.
ABSTRACT The Mate Laranjeira Railway, with a 60 cm gauge and a maximum length of 68 km, was privately built in the west of the Brazilian State of Paraná, in the second decade of the 20th century, by the large company that explored, at that time, the native forests of Paraguayan tea (Ilex paraguayensis) located in the extreme south of the neighboring State of Mato Grosso. The route was designed to bypass the Seven Falls, which interrupted the Paraná River navigation nearby the 24th parallel South, and thus facilitate the transport of the tea towards its main consumer market: Argentina. By connecting two navigable stretches of the Paraná River, the railroad could facilitate the occupation and exploration of the entire region, which until then was considered remote and wild, and therefore attracted the attention of the administrators from the State of Paraná and the Brazilian national state. In this article I seek to analyze this railroad as a member of the industrial railways category, addressing its construction history, its technical operating conditions and also the dispute over its opening to public traffic. The sources include legislation, periodicals, government reports, statistical data and documents from the company itself, as well as reports from travellers and other non-academic works. The main conclusion is that, although useful for private purposes, the railway, due to its intrinsic limitations, was not able to play a public role of great relevance.