Resumo Na última década, uma série de escavações arqueológicas sistemáticas foi realizada pela equipe do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá, produzindo um acervo muito rico e diversificado, que tem sido estudado e discutido por várias pessoas da equipe. Neste artigo, vou tomar como foco uma estrutura funerária que contém um conjunto de cerâmicas indígenas, algumas antropomorfas, oriundas de contextos arqueológicos cuidadosamente registrados, buscando explorar suas capacidades agentivas, e articulando suas propriedades materiais, aspectos estéticos e os próprios contextos de deposição. Partindo de uma perspectiva alimentada pela etnologia indígena da Amazônia, que tem salientado a potência da materialidade na relação com diversas gentes, procuro tecer narrativas que evidenciam o lugar do cuidado estético na produção destas peças para atrair olhares e produzir relações com quem as encontra. Para além da beleza, no entanto, minha proposta é explorar de que modos estas vasilhas e os demais materiais com os quais se conectam podem nos apontar uma série de relações que as pessoas que as produziram e utilizaram estavam criando e como as estavam usando entre outras pessoas, lugares e seres.
Abstract In the last decade, a series of systematic archaeological excavations was carried out by the Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá, resulting in very rich and diversified assemblages, which have been studied by many members of the research team. In this article, I propose to study a funerary structure which contains a collection of ceramics, including anthropomorphic urns from archaeological contexts which were carefully documented. From there, I seek to explore their agentive capacities, connecting their material properties, aesthetic aspects and contextual information. I follow a perspective drawn from Amazonian indigenous Ethnology, which highlights the potency of materiality in the relationships with different peoples, aiming at producing narratives which express the aesthetic care in their production in order to attract the eye and produce relations to whoever encounter them. Beyond their beauty, my aim is to explore ways in which pottery and other materials might point to a series of relationships which people who produced and used them were activating and using among people, places and other beings.