RESUMO A inclusão, a adesão e o sucesso de estudantes de baixa renda na graduação são metas importantes no ensino superior brasileiro, assim como em outras partes do mundo, principalmente em cursos concorridos e em tempo integral, como o de Medicina. Este manuscrito analisa o desempenho de estudantes de graduação em Medicina, comparando dois grupos: os que se candidataram e receberam uma bolsa de estudos durante os anos acadêmicos (bolsistas) e os demais (sem bolsa). Analisamos dados de 417 estudantes de Medicina que se formaram entre 2010 e 2013, correspondendo a quatro anos de uma coorte retrospectiva, numa universidade pública gratuita no Brasil. A análise estatística foi realizada pelo teste exato de Fisher, o teste t de Student, o de Mann-Whitney e a regressão linear para comparar os escores desses grupos no sexto e décimo segundo semestres (meio e último semestres) e no exame de admissão para programas de residência médica, compostos por: escore total, teste de múltipla escolha para avaliação do conhecimento, avaliação clínica estruturada simulada, entrevista e perguntas escritas. A variável independente foi receber uma bolsa de estudos, enquanto as variáveis de controle foram idade, estratos socioeconômicos, gratificações extras para o ensino médio em instituição pública e autodeclaração de raça, pontuação no vestibular (geral e em cada área avaliada) e escolaridade dos pais. Um total de 243 alunos (58,2%) receberam uma bolsa de estudos, a maioria como bolsa de iniciação científica (217 ou 89,3%), enquanto 10,7% a receberam por assistência social. A renda média per capita foi cerca de 16% menor entre os bolsistas (p = 0,01) em comparação com aqueles que não receberam bolsa. Os estudantes bolsistas obtiveram melhor desempenho acadêmico no sexto (p<0,01) e no décimo segundo (p<0,01) semestres, mas não na admissão em programas de residência médica. O bom desempenho foi independentede idade,raça, recebimento de bônus à admissão na escola médica e formação educacional dos pais. Portanto, concluímos que receber uma bolsa na graduação foi associadoa melhor desempenho dos alunos durante o curso de graduação em Medicina. Enfatizamos a importância de reforçar programas semelhantes, especialmente para ajudar a apoiar os alunos mais vulneráveis socioeconomicamente.
ABSTRACT The inclusion, adherence and success of low-income undergraduates are important goals in Brazilian higher education, as well as in other parts of the world, especially in busy and full-time courses such as medicine. This paper analyzes the performance of undergraduate medical students by comparing two groups: those who applied for and received a scholarship during the academic years (scholarship holders) and the others (without scholarship). We analyzed data from 417 medical students who graduated between 2010 and 2013, corresponding to four years of a retrospective cohort at a free public university in Brazil. Statistical analysis was performed using Fisher’s exact test, Student’s t test, Mann-Whitney test, and linear regression to compare the scores of these groups in the sixth and twelfth semesters (middle and final semesters) and in the admission exam for medical residency programs, consisting of: total score, multiple choice test for knowledge assessment, simulated structured clinical assessment, interview and written questions. The independent variable was to receive a scholarship, while the control variables were age, socioeconomic strata, extra gratuities for high school in public institution and self-declaration of race, score in the vestibular entry exam (general and in each area assessed) and parents’ level of education. A total of 243 students (58.2%) received a scholarship, most of them as a scientific initiation grant (217 or 89.3%), while 10.7% received social assistance, the average income per capita was about 16% lower among students who received a scholarship (p = 0.01) compared to those who did not. Scholarship recipients achieved better academic performance in the sixth (p<0.01) and in the twelfth (p<0.01) semester, but not in admission to medical residency programs. Good performance was independent of age, race, receipt of bonuses for admission to medical school, and educational background of their parents. Therefore, we conclude that receiving a scholarship at the undergraduate level was associated tobetter student performance during the undergraduate medical course. It is important to emphasize the importance of reinforcing similar programs, especially to help support students who are most vulnerable socioeconomically.