Desordens de movimento raramente podem ser devidas a distúrbios psiquiátricos. A distonia psicogênica caracteriza-se pela inconsistência dos achados, presença de fatores precipitantes, manifestar-se inicialmente nos membros inferiores, associar-se a dor, a outros movimentos anormais incaracterísticos e a somatizações múltiplas. Descrevemos duas pacientes com diagnóstico de distonia psicogênica clinicamente estabelecida. Paciente 1, feminina, apresentou episódio súbito de perda de força dos quatro membros, evoluiu com distonia nos pés, laterocolo alternante, tremor generalizado, irregular, e hipertonia dos membros inferiores que desapareciam a distração; a avaliação psicológica evidenciou depressão, hipocondria, transtorno obsessivo. Paciente 2, feminina, há nove anos começou a ter tremor irregular nos membros inferiores, que desaparecia com a distração, e distonia no pé esquerdo associada a dor; progressivamente perdeu a marcha; a avaliação psicológica revelou comportamento infantilizado, com baixa tolerância a frustração, impulsividade e auto-agressão. Os exames complementares de ambas não mostraram alterações e a resposta ao tratamento farmacológico foi nula. Distonia raramente é de origem psicogênica. A inconstância e a incongruência com o quadro clássico, associadas a outras somatizações ou a distúrbios psiquiátricos, sugerem o diagnóstico.
Movement disorders have rarely been the result of psychiatric disturbances. Psychogenic dystonia is caracterized by inconsistent findings, a known precipitant factor, onset in legs, pain , multiple somatizations and incongruent association with other movement disorders. We report two patients with clinically established psychogenic dystonia. Patient 1: a female that presented sudden loss of strength in her four limbs; she developed feet dystonia, alternant laterocollis, generalized and irregular tremor, and limb hypertonia that disappeared with distraction; psychological examination showed severe depression, hypochondria and obsessive disorder. Patient 2: a female that presented with irregular limb tremors that disappeared with distraction and left foot dystonia nine years ago; she gradually lost her walk capacity; she complained pain in lumbar area and in her left limb, psychological examination showed infantile behaviour, low frustration tolerance, impulsivity and self-aggression. Their complementary exams showed no alterations and they had no reponse to specific pharmacological treatment. Dystonia is rarely psychogenic, but this etiology is suggested when clinical characteristics are inconsistent and incongrous with a classical disorder. It shoud be part of differential diagnosis when appears in association with other somatization or psychiatric disorders.