Resumo Este trabalho surge do descobrimento, no mito de origem kadiwéu, de duas relações que envolvem humanos e pássaros. Uma é a existente entre os três pássaros-detetives convocados pelo demiurgo para encontrar os ladrões do seu peixe - os ancestrais do ser humano. A outra é aquela entre o pássaro carão, o único que conseguiu ver os ladrões - permitindo ao demiurgo encontrá-los e “humanizá-los” -, e estes últimos. Com respeito à primeira, partindo de uma leitura estruturalista, argumentamos como esses pássaros formam uma série natural de diferenças, por meio da qual os Kadiwéu pensam metaforicamente sobre uma controversa série cultural, assumida como homóloga. Passando à segunda, interpretamos a hipótese perspectivista, defendendo a tese de que o carão enxergou aquela proto-humanidade no momento em que vestiu a sua “roupa”, ingerindo um alimento cozido. Na última parte do texto tentamos juntar estas duas relações para nos aproximarmos da armação do pensamento mítico deste povo ameríndio.
Abstract This study discusses two relationships involving humans and birds, as narrated in the Kadiwéu origin myth. One of these relationships concerns the three detective birds, called by the demiurge to find the thieves of his fish - the ancestors of human beings. The other relationship involves the only bird that was able to see the thieves - allowing the demiurge to find and "humanize" them - and the thieves themselves. With regard to the first relationship, starting from a structuralist point of view, I argue that these birds form a natural series of differences used by the Kadiwéu to think metaphorically about a controversial cultural series that is assumed as homologous. Moving on to the second relationship, I interpret it through the perspectivist hypothesis, arguing that the limpkin saw the proto-human thieves at the moment when he put on their "clothing", after eating cooked food. Finally, we try to combine these two relationships in order to approach the framework of the mythical thought of this Amerindian people.
Resumen Este trabajo surge del descubrimiento, en un mito de origen caduveo, de dos relaciones que envuelven a humanos y pájaros. Una es la existente entre los tres pájaros-detectives convocados por el demiurgo para encontrar a los ladrones de su pescado - los ancestrales del ser humano. La otra es la que existe entre el carao, el único pájaro que consiguió ver a los ladrones - permitiendo que el demiurgo los encontrara y “humanizara” -, y estos últimos. Con respecto a la primera, partiendo de una lectura estructuralista, argumentamos como esos pájaros forman una serie natural de diferencias, por medio de las cuales los caduveo piensan metafóricamente sobre una controvertida serie cultural, asumida como homóloga. Pasando a la segunda, interpretamos la hipótesis perspectivista, defendiendo la tesis de que el carao divisó aquella proto-humanidad en el momento en que vistió su “ropa”, ingiriendo un alimento cocido. En la última parte del texto intentamos juntar estas dos relaciones para aproximarnos al armazón del pensamiento mítico de este pueblo amerindio.