Migrações em morcegos brasileiros têm sido inferidas a partir de variações sazonais nas abundâncias regionais das populações, provavelmente condicionadas por flutuações na temperatura e na disponibilidade de alimento. No entanto, registros de deslocamentos individuais de média a longa distância, ultrapassando suas áreas domiciliares (> 10 km), comprovados através de marcação e recaptura, são restritos aos grandes morcegos frugívoros do gênero Artibeus (Phyllostomidae). Registramos, aqui, o maior deslocamento já publicado, de ca. 113 km em linha reta, entre localidades com diferença de altitude de 738 m, respectivamente em floresta mista de araucárias, região de Curitiba, PR, e em Mata Atlântica, Alto Ribeira, SP, realizado por uma fêmea de Artibeus lituratus (Olfers, 1818), em um intervalo máximo de 14 meses. Este dado é consistente com a ocorrência de movimentos migratórios em Artibeus spp. ao longo de áreas bastante extensas, provavelmente através de várias etapas de forrageio. As implicações para a conservação desses quirópteros são claras, uma vez que os animais desta espécie podem ter áreas de vida bem maiores que suas áreas domiciliares (de forrageio), abrangendo mais de um bioma e ultrapassando limites geopolíticos.
In Brazil, bat migrations have been inferred based on seasonal variations in bat abundances observed for several species, probably as a result of variations in temperature and food availability. However, direct evidence of individual medium to long distance (> 10 km) movements, based on marked specimens, is restricted to large frugivorous bats, genus Artibeus (Phyllostomidae). We report the longest bat movement recorded in Brazil, along 113 km in a straight line, difference in altitude of 738 m, from a mixed Araucaria forest in Curitiba, PR, to the Atlantic Forest, Alto Ribeira, SP, by a female Artibeus lituratus (Olfers, 1818), over a period of 14 months. This data is consistent with the occurrence of migratory movements in Neotropical bats, such as the ecologically flexible Artibeus spp., over relatively large areas, probably with short stopover foraging intervals. Implications for the conservation of these bats are clear, as their home ranges may be much larger than their foraging areas, encompassing more than one biome and overcoming political borders.