RESUMO O inescapável vínculo social entre instituições escolares e famílias nem sempre foi objeto analítico privilegiado pela Sociologia da Educação. Somente a partir da década de 1950 a família foi amplamente considerada nas pesquisas da área, que se dedicaram a encontrar as causas sociais das disparidades de rendimento escolar. Posteriormente, em investigações realizadas nos anos 1960 e 1970, o campo sociológico avançou no entendimento dos fatores de classe que, transmitidos pela família, determinavam a conservação das estruturas sociais por serem mais ou menos congruentes com os princípios, práticas e atitudes requeridos pelo universo escolar e acadêmico. Se a relação família-escola tem sido objeto proeminente de estudos científicos desde a segunda metade do século XX, a eleição do tema como objeto de políticas públicas específicas tem ganhado terreno principalmente a partir dos anos 1990. No Brasil, desde o início dos anos 2000, a tão propalada “parceria entre a família e a escola” tem protagonizado diversos instrumentos normativos, incentivos estatais e investimentos privados. A temática ganhou ainda mais destaque nos últimos 20 anos, quando assistimos, em diferentes ambientes (acadêmicos, escolares e arenas políticas), à intensificação das discussões sobre as funções da escola, notadamente em relação aos papeis educativos da família. Acreditamos que este dossiê, ao apresentar perspectivas de análise e constructos metodológicos ainda pouco mobilizados pela pesquisa da área, assim como investigações sobre temas incipientes, oferece um conjunto de reflexões bastante fecundas para a compreensão das desigualdades educacionais, do dinamismo e diversidade das configurações familiares, e das transformações dos mercados escolares.
RESUMEN El ineludible vínculo social entre las instituciones escolares y las familias no siempre ha sido el objeto de análisis preferido de la sociología de la educación. No fue hasta la década de 1950 cuando la familia se tuvo en cuenta ampliamente en las investigaciones del campo, que se dedicaban a encontrar las causas sociales de las disparidades en el rendimiento escolar. Posteriormente, en las investigaciones realizadas en las décadas de 1060 y 1970, el campo sociológico avanzó en la comprensión de los factores de clase que, transmitidos por la familia, determinaban la conservación de las estructuras sociales al ser más o menos congruentes con los principios, prácticas y actitudes exigidos por el mundo escolar y académico. Aunque la relación entre la familia y la escuela ha sido un tema destacado de estudio científico desde la segunda mitad del siglo XX, la cuestión se ha elegido como objeto de políticas públicas específicas principalmente a partir de los años 1990. En Brasil, desde principios de la década de 2000, la tan cacareada “asociación entre familia y escuela” ha sido objeto de diversos instrumentos normativos, incentivos estatales e inversiones privadas. El tema ha ganado aún más protagonismo en los últimos veinte años, cuando hemos visto, en diferentes ámbitos (académico, escolar y político), la intensificación de los debates sobre las funciones de la escuela, especialmente en relación con las funciones educativas de la familia. Creemos que este dosier, al presentar perspectivas de análisis y construcciones metodológicas que no han sido objeto de investigación en este campo, así como indagaciones sobre temas no estudiados anteriormente, ofrece un conjunto de reflexiones muy fructíferas para comprender las desigualdades educativas, el dinamismo y la diversidad de las configuraciones familiares y las transformaciones de los mercados escolares.
ABSTRACT The unavoidable social bond between school institutions and families has not always been a privileged object of analysis for the sociology of education. It was not until the 1950s that the family was widely considered in the field’s research, which focused on finding the social causes of inequalities in school performance. Subsequent studies in the 1960s and 1970s witnessed a progression in the sociological understanding of the role of family in transmitting social structures, which were determined by class factors and the congruence of these structures with the principles, practices, and attitudes demanded by the school and academic environment. While the relationship between family and school has been a subject of scientific study since the mid-20th century, it has only recently become the focus of specific public policies, particularly in the 1990s. In Brazil, since the early 2000s, the much-vaunted “family-school partnership” has been the focus of various regulatory instruments, government incentives, and private investments. This issue has seen a marked rise in prominence over the past two decades, as evidenced by the intensification of discourse surrounding the functions of the school, particularly in regard to the educational contributions of the family. This dossier presents analytical perspectives and methodological constructs that have not yet been mobilized by research in the field, as well as investigations into topics that have not yet been studied. It offers a series of fruitful reflections for understanding educational inequalities, the dynamism and diversity of family configurations, and the transformations of school markets.