RESUMO: Neste artigo, discute-se a forma como era representada e tematizada a educação de excepcionais (hoje, pessoas com deficiência intelectual), sob o influxo da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), entre as décadas de 1960 e 1970 no Brasil. Para tanto, toma-se o impresso periódico Mensagem da Apae como fonte e objeto de pesquisa, em sua primeira fase de existência (1963-1973), na perspectiva da Nova História Cultural. Pela organização material e textual do impresso, evidencia-se o investimento discursivo como forma de legitimar uma identidade institucional e justificar o trabalho das Apaes com esse público, mediante uma perspectiva pedagógica institucional que visava (re)habilitar, treinar e ajustar o excepcional à sociedade, imputando-lhe uma ocupação laboral, em caráter semiprofissional, desqualificado e repetitivo. Desse modo, a educação ofertada não era um processo consistente de profissionalização, muito menos de escolarização, mas sim uma forma de higiene social. Logo, o foco não estava em formar o cidadão, e, sim, impedir a emergência do delinquente, bem como liberar os pais e familiares que se ocupavam do excepcional para que estes pudessem trabalhar e serem produtivos, com vistas a se impedir a perturbação do progresso nacional e a fomentar uma suposta harmonia do tecido social, em um contexto marcado pelo tecnicismo político-educacional e pela ditadura civil-militar.
ABSTRACT: This article discusses how the education of intellectual disabled people was represented and thematized, under the influence of Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), between the 1960s and 1970s in Brazil. To this end, the printed periodical Mensagem da Apae is taken as the source and object of research, in its first phase (1963-1973), from the perspective of the New Cultural History. By the material and textual organization of the periodical, we can perceive the discursive investment as a way to legitimize an institutional identity and justify Apae’s work to this public. In an institutional pedagogical perspective that aimed to (re)habilitate, train, and adjust intellectually disabled people to society, offering them semiprofessional, non-qualified, and repetitive jobs. Thus, the education offered was not a consistent process of professionalization, much less schooling, but a form of social hygiene. Thus the focus was not on forming citizens but rather to prevent the emergence of offenders, as well as to free parents and caretakers to work and be productive, preventing the disruption of national progress and foster an alleged harmony of the social fabric, in particular a context marked by political-educational technicism and civil-military dictatorship.
RESUMEN: Este artículo analiza cómo la educación de los excepcionales (hoy en día las personas con discapacidad intelectual) fue representada y tematizada, bajo la influencia de la Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), entre las décadas de 1960 y 1970 en Brasil. Por lo tanto, la publicación periódica Mensagem da Apae se toma como fuente y objeto de investigación, en su primera fase de existencia (1963-1973), desde la perspectiva de la Nueva Historia Cultural. Mediante la organización material y textual de la impresión, la inversión discursiva se evidencia como una forma de legitimar una identidad institucional y justificar el trabajo de las Apaes con este público, a través de una perspectiva pedagógica institucional que tenía como objetivo (re) habilitar, capacitar y ajustar el excepcional a la sociedad, imputándole una ocupación laboral de carácter semiprofesional, descalificada y repetitiva. Por lo tanto, la educación ofrecida no fue un proceso constante de profesionalización, tampoco de escolarización, sino una forma de higiene social. Entonces, el foco no estaba en formar al ciudadano; sino en impedir la aparición del delincuente, así como en liberar a los padres y familiares que se ocuparon del excepcional para que pudieran trabajar y ser productivos, a fin de evitar la interrupción del progreso nacional y fomentar una supuesta armonía del tejido social, en un contexto marcado por el tecnicismo político educativo y por la dictadura cívico militar.