RESUMO O presente artigo3 propõe-se a demonstrar como o intelectual espanhol José Maria Blanco y Crespo (1775 - 1841) utilizou no seu libelo abolicionista acima citado uma técnica literária, conhecida como narrativa humanitária, derivada do ideário filantrópico iluminista, para sensibilizar os leitores contra o tráfico de escravos, com a intenção de despertar neles a compaixão pelos africanos transformados em mercadorias pelos agentes deste tipo de comércio. Desse modo, será defendido o argumento de que, apesar de o conteúdo crítico do seu referido libelo ser, em sua maior parte, um eco de outros textos, a forma estilística dele, a partir da qual ele articulou as críticas já conhecidas ao tráfico negreiro com os ideais humanitários então em voga, é um exemplo do discurso sentimental da filosofia moral iluminista. Assim, seu Bosquexo del en esclavos... pode ser considerado uma expressão literária do processo histórico da reinvenção moderna das emoções consolidada pelo Iluminismo, porque mobilizou uma gama de vocabulário para estruturar uma linguagem emotiva destinada a criar um elo, a partir do sentimento humanitário, de solidariedade entre leitores e o sofrimento de pessoas alheias à sua realidade social 4.
ABSTRACT This paper demonstrates how Spanish intellectual José Maria Blanco y Crespo (1775-1841), in his abolitionist work, used a literary technique known as humanitarian narrative, derived from the Enlightenment philanthropic ideology, to sensitize readers against the slave trade, awakening in them compassion for the African individuals turned into commodities by slave traders. As such, it argues that, although the critical content of his libel, for the most part, echoes other texts, his stylistic form, from which he articulated the already known criticisms of the slave trade with the humanitarian ideals then in vogue, is an example of the sentimental discourse of Enlightenment moral philosophy. His Bosquexo del en esclavos... can thus be considered a literary expression of the historical modern reinvention of emotions consolidated by the Enlightenment, as it mobilized vocabularies to structure an emotional language designed to create a link, based on humanitarian sentiment, of solidarity between readers and the suffering of people alien to their social reality.