Resumo: Este trabalho se propõe a investigar a aquisição das vogais nasais ɛ̃, ã; e ɔ̃ da Língua Francesa por aprendizes do curso de licenciatura em Letras Português/Francês. Em termos articulatórios, essa classe de segmentos caracteriza-se pelo abaixamento do véu palatino, o que gera o acoplamento dos tubos nasal e oral (SEARA, 2000; MEDEIROS e DEMOLIN, 2006; BARBOSA e MADUREIRA, 2015) e, consequentemente, por aspectos acústicos diferentes daqueles encontrados nas vogais orais. Com a passagem livre do ar no trato nasal, o primeiro formante (F1) tende a abaixar e o terceiro (F3) a aumentar (HAWKINS e STEVENS, 1985; DELVAUX, 2003). Há também uma modificação na amplitude de picos espectrais - menor para as nasais -, aparecimento de picos espectrais adicionais e uma maior duração para os referidos segmentos (MORAES e WETZELS, 1992; SOUSA, 1994). Para desenvolver essa pesquisa, foram realizadas coletas de dados articulatórios com três grupos de informantes: Grupo I - dois aprendizes de FLE de semestres distintos (2º e 8º) do curso de licenciatura; Grupo II - uma nativa de francês; e Grupo III - uma nativa de português brasileiro. O instrumento de coleta articulatória consistiu em um teste de produção de logatomas em frase-veículo. As coletas foram realizadas na cabine acústica do Laboratório Emergência da Linguagem Oral (LELO/UFPel). Para a coleta e análise dos dados articulatórios, foi utilizado o software Articulate Assistant Advanced (AAA), versão 2.16.11. A análise dos segmentos dos dois grupos de nativas constatou que: (i) para diferenciar o segmento nasal do oral, a nativa do francês posterioriza seus movimentos de língua, já a do português, eleva-os. Quanto aos dados das aprendizes, foi possível constatar: (i) generalização dos gestos de língua da informante do 2º semestre para as três vogais nasais do FR e (ii) distinção vocálica acurada da informante do 8º semestre. Ainda, a ultrassonografia demonstrou ser uma ferramenta promissora para a realização de pesquisas acerca da nasalidade, evidenciando diferenças estatísticas significativas nos movimentos de língua entre os segmentos orais e nasais.
Abstract: This work aims at investigating the acquisition of the nasal vowels ɛ̃, ã; and ɔ̃ of French by learners in an undergraduate course in Languages (Portuguese and French). In articulatory terms, this class of segments is characterized by a lowering of the velum, which makes a connection between nasal and oral tubes (SEARA, 2000; MEDEIROS e DEMOLIN, 2006; BARBOSA e MADUREIRA, 2015). Consequently, these vowels are characterized by acoustic aspects different from those found in oral vowels. With the free passage of air in the nasal tract, the first formant value (F1) tends to lower and the third formant value (F3) tends to rise (HAWKINS e STEVENS, 1985; DELVAUX, 2003). There is also a change in the width of spectral peaks - which is smaller for nasal vowels -, as well as the appearance of additional spectral peaks and a longer duration for these segments (MORAES e WETZELS, 1992; SOUSA, 1994). In order to develop this research, sessions of articulatory data collection have been made with three groups of informants: Group I - two learners of French as a Foreign Language (FFL) in different semesters (2nd and 8th) of the course; Group II - a native speaker of French; and Group III - a native speaker of Brazilian Portuguese. The articulatory data collection instrument consisted in a test involving the production of pseudowords in a carrier phrase. The sessions of data collection were made in an acoustic cabin of the Emergence of Oral Language Laboratory (LELO/UFPel). For the purpose of collection and analysis of articulatory data, the software Articulate Assistant Advanced (AAA, version 2.16.11) has been used. The analysis of the segments produced by both groups of native speakers has demonstrated that in order to distinguish the nasal segment from the oral one, the native speaker of French posteriorizes her tongue movements, whereas the speaker of Portuguese elevates them. Regarding the data produced by learners, it was possible to verify: (i) generalization of tongue gestures by the 2nd semester informant for the three French nasal vowels and (ii) accurate vocalic distinction by the 8th semester informant. Additionally, ultrasonography has shown to be a promising tool for research on nasality, evidencing significant statistic differences in tongue movements between oral and nasal segments.