Resumo Este artigo discute como o filme Infancia clandestina (2012), de Benjamín Ávila, marca uma virada na representação cinematográfica da ditadura de 1976-1983, na Argentina. Por um lado, este filme se distancia de trabalhos de ficção como La historia oficial, de Luis Puenzo, regulado pelo arquivo e pelas evidências testemunhais e documentais disponíveis para o espectador para além do filme; por outro lado, a produção de Ávila não apenas inclui uma figura ausente nos filmes sobre o período feitos imediatamente após a ditadura, denominada guerrilheiro, mas também a desloca da verificação referencial demandada pelo testemunho e pela experiência autobiográfica da primeira pessoa para uma verificação que expressa - com a articulação imanente das unidades narrativas próprias da ficção - uma fábula de identidade comunitária sobre o passado histórico. Enquanto o mesmo poderia ser dito sobre documentários subjetivos mais recentes, centrados em um ponto de vista (aquele dos filhos de desaparecidos, que cresceram com uma biografia inventada) caracterizado pelo apagamento dos limites entre fato e ficção, como Los rubios, de Albertina Carri, ou M, de Nicolás Prividera, Infancia clandestina permanece isolado como um trabalho de ficção que, ao contrário desses filmes, abandona completamente o gênero documental. Finalmente, o artigo sugere que a alegorização do passado histórico em Infancia clandestina é tão poderoso que consegue subsumir numa narração ficcional o trauma da experiência dos anos da ditadura. O que se discute, portanto, não é a memória dessa narração, mas os modos e o valor dessa construção simbólica.
Abstract This article argues that Benjamin Ávila's Infancia clandestina (2012) marks a turning point in the cinematic representation of the 1976-1983 dictatorship in Argentina. On the one hand, this film distances itself from works of fiction such as Luis Puenzo's La historia oficial, regulated by the archive and by testimonial and documentary evidence available to the viewer beyond the film. Conversely, Ávila's film not only includes a figure absent in films on the period made immediately after the dictatorship, namely the guerrillero, but it also shifts its discourse away from the referential verification demanded by testimony and from the autobiographical experience of the first person, to one that expresses - with the immanent articulation of its own fictional narrative units - a tale of community identity over the historical past. While the same could be said about more recent subjective documentary films centred on a point of view (that of the children of the disappeared who have grown up with an invented biography) characterized by a blurring of the boundaries between fact and fiction, such as Albertina Carri's Los rubios or Nicolás Prividera's M, Infancia clandestina stands alone as a work of fiction that, unlike these films, abandons the documentary genre altogether. Ultimately, the article suggests that the allegorisation of the historic past in Infancia clandestina is so powerful that it manages to subsume in a fictional narration the trauma of the experience of the years of dictatorship. What is at issue here is not the memory of the narrative, but rather the value of symbolic construction.
Resumen Este artículo discute cómo Infancia clandestina (2012), de Benjamín Ávila, señala un viraje en la representación cinematográfica de la dictadura argentina de 1976-1983. Por un lado, el filme se distancia de trabajos de ficción como La historia oficial, de Luis Puenzo, regulado por el archivo y por las evidencias testimoniales y documentales disponibles para el espectador más allá del propio filme. Por otro lado, la producción de Ávila no sólo incluye una figura ausente en las películas sobre el período hechas inmediatamente después de la dictadura, denominada guerrillero, sino que la desplaza de la verificación referencial demandada por el testimonio y por la experiencia autobiográfica de la primera persona hacia una verificación que expresa - con la articulación inmanente de unidades narrativas propias de la ficción- una fábula de identidad comunitaria sobre el pasado histórico. Mientras lo mismo podría ser dicho sobre documentales subjetivos más recientes centrados en un punto de vista (el de los hijos de desaparecidos que crecieron con una biografía inventada) caracterizado por la borradura de los límites entre hecho y ficción, como Los rubios de Albertina Carri o M de Nicolás Prividera, Infancia clandestina permanece aislado como trabajo de ficción que, al contrario de esos filmes, abandona completamente el género documental. Por último, el artículo sugiere que la alegorización del pasado histórico en Infancia clandestina es tan poderosa que logra subsumir en una narración ficcional el trauma de la experiencia de los años de dictadura. Lo que se discute, por lo tanto, no es la memoria de esa narración, sino los modos y el valor de dicha construcción simbólica.