OBJETIVO: Compreender as percepções das equipes de farmácia sobre seu papel nos desafios assistenciais e adesão aos anti-retrovirais de usuários de drogas injetáveis vivendo com HIV/Aids. MÉTODOS: Estudo qualitativo por grupos focais e análise temática das falas produzidas com farmacêuticos, técnicos e auxiliares com experiência superior a seis meses na dispensação de medicamentos, de 15 unidades assistenciais de DST/Aids do município de São Paulo, em 2002. RESULTADOS: Formaram-se três grupos, totalizando 29 participantes, provenientes de 12 dos 15 serviços existentes, com 12 universitários e 17 profissionais de nível médio. Os grupos concluíram que a farmácia tem importante papel na dispensação de anti-retrovirais, o que se reflete na adesão ao tratamento, pois por meio de seus procedimentos podem ser construídas relações de confiança. Avaliam, porém, que tal construção não ocorra pela excessiva burocratização de suas atividades. Isso repercute negativamente para todos os pacientes, em especial sobre usuários de drogas injetáveis, concebidos como "pessoas difíceis". Tal concepção essencializa seus comportamentos: seriam confusos, com limites de compreensão e sem possibilidades de adesão ao tratamento. Os profissionais, porém, afirmam que tratam esses pacientes tal como os demais, igualando-os. Não percebem neste proceder, uma invisibilização das necessidades específicas dos usuários de drogas injetáveis no serviço, bem como a possibilidade de gerarem estereótipos estigmatizantes com barreira adicional ao trabalho da adesão. CONCLUSÕES: Embora a farmácia seja indicada como espaço potencialmente favorável para escuta e construção de vínculos com os usuários, os resultados mostram obstáculos objetivos e subjetivos para torná-la propícia para trabalhar a adesão.
OBJECTIVE: To understand the perceptions of pharmacy teams about their role in the healthcare assistance challenges and adherence to antiretroviral therapy by injecting drug users living with HIV/AIDS. METHODS: Qualitative study through focus groups and thematic discourse analysis of pharmacists, technicians and assistants with more than six months of experience with medication supply, in 15 assisting units for STD/AIDS in the city of São Paulo, in 2002. RESULTS: Three groups were formed, totaling 29 participants, originating from 12 out of the 15 existing services, and including 12 university level professionals and 17 high-school level professionals. The groups concluded that the pharmacy has an important role in the antiretroviral drug supply, which is reflected in the treatment adherence, because trust-based relationships can be built up through their procedures. In spite of this, they pointed out that such building-up does not take place through excessively bureaucratic activities. This has negative repercussions for all patients, especially for injecting drug users, considered "difficult people". Such concept sums up their behavior: they are supposed to be confused and incapable to adhere to treatment, and have limited understanding. Staff members, however, affirm they treat these patients equally. They do not realize that, by this acting, the specific needs of injecting drug users may become invisible in the service. There is also the possibility that stigmatizing stereotypes may be created, resulting in yet another barrier to the work on adherence. CONCLUSIONS: Although the pharmacy is recommended as a potentially favorable place to listen to and form bonds with users, the results show objective and subjective obstacles to render it suitable for the work on adherence.