Resumo Este artigo explora a relação entre violência, racismo e estigmatização no contexto do conflito armado interno peruano (1980-2000) e como essa relação afeta tanto os processos de memória no Peru, iniciados após o colapso do governo de Alberto Fujimori (2000), quanto as dimensões de continuidade das práticas coloniais expressas no perfil étnico do “outro”, a fim de transformá-lo em um inimigo social e político. A partir de estudos de memória e da história político-cultural, este artigo traça uma ligação entre as batalhas de memória e a mobilização social, propondo que essa ligação seja mediada pelo que no Peru é conhecido como terruqueo, ou seja, a construção artificial, racista e conveniente de um inimigo sociopolítico para deslegitimar formas de protesto social que contradizem o que, neste artigo, eu chamo de totalidade fujimorista: uma combinação de práticas totalitárias discursivas e enclaves politicamente autoritários, impulsionados por um modelo de desenvolvimento neoliberal e extrativista.
Abstract This article explores the relationship among violence, racism and stigmatisation in the context of the Peruvian internal armed conflict (1980-2000), and how this relationship impacts both on the memory processes in Peru initiated after the collapse of Alberto Fujimori’s government (2000), and on the dimensions of continuity of colonial practices expressed in the ethnic profiling of “the other” to turn him/her into a social and political enemy. From memory studies and political-cultural history, this paper traces a link between memory battles and social mobilisation, proposing that this link is mediated by what in Peru is known as terruqueo, that is, the artificial, racist and convenient construction of a socio-political enemy to delegitimise forms of social protest that contradict what, in this article, I call Fujimorist totality: a combination of discursive totalitarian practices and politically authoritarian enclaves driven by a neoliberal and extractivist development model.