Objetivo. Determinar as prevalências estaduais e nacional do bócio endêmico relacionado com a deficiência de iodo em escolares de 6 a 14 anos, com base em dados obtidos no inquérito nacional realizado de 1994 a 1996 no Brasil. Materiais. Em 428 municípios de todos os estados brasileiros, o exame de inspeção-palpação foi utilizado para coletar dados de 178 774 escolares de 6 a 14 anos. Uma sub-amostra foi selecionada para determinação do conteúdo de iodo na urina e sal culinário residencial. Resultados. Em comparação com dados de 1975, último inquérito antes deste aqui relatado, constatou-se queda de 86% na prevalência mediana de bócio graus I e II (de 12 para 1%). Em 21% dos municípios, a prevalência observada foi zero. Das 16 803 amostras urinárias para dosagem de iodo foi possível recuperar 7 702 e associá-las às respectivas fichas clínicas individuais (perda de 54%). A mediana de iodo urinário foi de 14,0 mig/dL e não se verificou correlação significativa com os dados clínicos de bócio. Os estados do Acre, Amapá e Tocantins tiveram mediana populacional de excreção urinária de iodo igual ou abaixo de 9,0 mig/dL. Em três municípios a dosagem urinária de iodo foi gravemente baixa (< 2,5 mig/dL) em todas as amostras: Paranã (Tocantins); Conceição (Paraíba); e Nova Roma (Goiás). O sal consumido nas residências (458 amostras coletadas) apresentou sub-dosagem de iodo suplementar, com 50% abaixo de 20 mg/kg ou 20 ppm. Em 7% das amostras, a dosagens de iodo foi menor do que 10 mg/kg de sal, inclusive em estados produtores de sal, como o Rio Grande do Norte. Conclusões. Há evidências de expansão da área endêmica de bócio para as regiões de abertura de fronteira agrícola, com exposição de crianças a dieta doméstica carente de iodo veiculado pelo sal. Esta carência associou-se com o aumento de risco para bócio (OR = 1,85; 1,68 < OR < 2,03; IC 95% Cornfield) nas áreas onde a iodação do sal consumido foi deficiente (< 10 mg/kg).
Objective. To determine the national and state-level prevalence of endemic goiter associated with iodine deficiency in schoolchildren between 6 and 14 years of age in Brazil, based on data from a national survey carried out from 1994 to 1996. Materials. Thyroid inspection and palpation were performed on 178 774 schoolchildren between 6 and 14 years of age, in all the states of Brazil. A subsample was selected to measure the iodine content in their urine as well as the iodine content of the table salt used for cooking in their homes. Results. The last survey before this one was carried out in 1975. We found an 86% decrease in the median prevalence of grade 1 and grade 2 goiter, from 12% to 1%. In 21% of the municipalities, the observed prevalence was zero. From the 16 803 urine samples collected for iodine measurement, 7 702 were matched with the corresponding clinical record (a loss of 54%). The median urinary iodine level was 14.0 mug/dL, and without a significant correlation with the clinical data on goiter. The median iodine excretion level for the population in the states of Acre, Amapá, and Tocantins was equal to or below 9.0 mug/dL. In three municipalities, urinary iodine was below 2.5 mug/dL in all the samples: Paranã (in the state of Tocantins), Conceição (Paraíba), and Nova Roma (Goiás). The supplementary iodine found in the salt collected from households (458 samples collected) was below recommended levels, with 50% of them below 20 mg/kg (20 ppm). In 7% of the samples, the level of iodine was below 10 mg/kg of salt, even in salt-producing states such as Rio Grande do Norte. Conclusions. There is evidence that endemic goiter is expanding to parts of Brazil that more recently have been opened up for agriculture, with children in those areas being exposed to low levels of supplementary iodine in the salt used for cooking. We found an increased risk of goiter in areas with deficient iodine supplementation (< 10 mg/kg) (odds ratio = 1.85; Cornfield 95% confidence interval: 1.68-2.03).