Resumo: O presente ensaio visa a problematizar e discutir em que medida a uberização do trabalho se caracteriza, de fato, como um fenômeno de tipo novo. O estudo apoia-se em pesquisas qualitativas e em análise documental referentes às formas de contratação entre 1999 e 2017. Procede-se, para tal análise, à construção do processo histórico das práticas concernentes às relações de trabalho pelo Governo Estadual de São Paulo, Brasil, as quais são marcadas pela flexibilização intencional, orientadas pelos princípios intrínsecos da Nova Gestão Pública. Constata-se que a empresa Uber, para além da economia digital, propagou formas ainda mais flexíveis das observadas durante e após a reestruturação produtiva, propalando e visibilizando o trabalhador sem contrato, a intensificação do trabalho e os ganhos minimizados. A correspondência com o trabalho docente recupera as raízes históricas da fundação das relações precárias com a categoria e revela que tais características não se configuram como de tipo novo entre os que exercem a profissão. Averiguam-se características semelhantes às praticadas pela Uber e, portanto, conclui-se que há um processo de quasi-uberização concernente ao trabalho docente. Apreende-se, igualmente, a presença de fortes sinais do esfacelamento dos coletivos, posto que se divide em três grupos, identificados nos estudos realizados. Cada grupo apresenta particularidades que acentuam as nuances dos processos de individualização no trabalho, estratégia acoplada ao gerencialismo e à constatação de que o neoliberalismo atinge os indivíduos, alterando valores e subjetividades, exaltando a competitividade e o individualismo nos processos de trabalho.
Abstract: This essay aims to problematize and discuss the degree to which uberization of work can actually be characterized as a new phenomenon. The study is based on qualitative research and document analysis concerning hiring formats for teachers from 1999 to 2017. The article reconstructs the historical process of labor relations under the São Paulo state government, Brazil, marked by intentional flexibilization and oriented by the intrinsic principles of New Public Management. Beyond the digital economy, Uber has propagated even more flexible methods than those seen after industrial restructuring, promoting and featuring workers without contracts, the intensification of work, and minimal earnings. The parallel with teaching revisits the historical roots of precarious labor relations with teachers and shows that such characteristics are not a new phenomenon for the teaching profession. The study shows similar characteristics to those practiced by Uber and concludes that there is a process of quasi-uberization of teaching. The study also identifies strong signs of the dismantling of teachers’ collective representation, since the profession is divided into three groups. Each group shows specific characteristics that accentuate the nuances in the individualization of work, a strategy coupled with managerialism and the observation that neoliberalism affects individuals, altering values and subjectivities, extolling competition and individualism in work processes.
Resumen: Este ensayo pretende problematizar y discutir en qué medida la uberización del trabajo se caracteriza, de hecho, como un nuevo tipo de fenómeno. El estudio se apoya en investigaciones cualitativas y en un análisis documental, referente a las formas de contratación entre 1999 y 2017. Se procede, para tal análisis, a la construcción del proceso histórico de las prácticas concernientes a las relaciones de trabajo por el gobierno del estado de São Paulo, Brasil, que están marcadas por la flexibilización intencionada, orientadas por los principios intrínsecos de la Nueva Gestión Pública. Se constata que la empresa Uber, más allá de la economía digital, propagó formas incluso más flexibles que las observadas durante y tras la reestructuración productiva, generalizando y visibilizando al trabajador sin contrato, además de conseguir una intensificación del trabajo y beneficios minimizados. La correspondencia con el trabajo docente recupera raíces históricas, basadas en relaciones precarias con la categoría profesional, y revela que tales características no se configuran como un nuevo tipo de relación laboral entre quienes ejercen la profesión. Se investigan características semejantes a las practicadas por Uber y, por tanto, se concluye que existe un proceso de uberización concerniente al trabajo docente. Se percibe, igualmente, la presencia de fuertes señales del resquebrajamiento de los colectivos, puesto que se dividen en tres grupos, identificados en los estudios realizados. Cada grupo presenta particularidades que acentúan los matices de los procesos de individualización en el trabajo, estrategia acoplada al mercantilismo, y a la constatación de que el neoliberalismo alcanza a los individuos, alterando valores y subjetividades, exaltando la competitividad y el individualismo en los procesos de trabajo.