Resumo O objetivo do artigo é identificar o impacto da pandemia de COVID-19 na incidência de violência sexual de crianças e adolescentes no ambiente domiciliar no Brasil. Estudo ecológico de série temporal utilizando regressão joinpoint a partir de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação, período 2009-2021. Analisaram-se frequência relativa e taxas brutas de incidência de violência sexual ocorrida na residência contra a população de 0 a 19 anos, estimando-se variação percentual anual (APC) e variação percentual anual média (AAPC), com intervalo de confiança de 95%. A frequência relativa do agravo obteve maiores valores em 2020 (69,8%) e 2021 (71,7%), com aumento de 3,1% (p = 0,001) em 2017-2021. As meninas foram mais atingidas, com elevação das taxas em 2009-2012 (APC = 44,4; p = 0,010) e 2015-2019 (APC = 16,6; p = 0,017), porém queda em 2019-2021 (APC = -17,7; p = 0,042). Todas as faixas etárias apresentaram aumento significativo até 2019, e redução após esse ano para 5-9 anos (APC = -18,6; p = 0,016), 10-14 anos (APC = -14,1; p = 0,040) e 15-19 anos (APC = -18,4; p = 0,021). A redução nas taxas de incidência desse tipo de violência pode ter sofrido influência do contexto de isolamento social na pandemia de COVID-19, que levou à subnotificação dos casos.
Abstract The scope of this article is to identify the impact of the COVID-19 pandemic on the incidence of sexual violence against children and adolescents in the home environment in Brazil. It involves an ecological time-series study using joinpoint regression based on data from the Notifiable Diseases Information System from 2009 to 2021. The relative frequency and crude incidence rates of sexual violence occurring in the home against the population group aged 0 to 19 years were analyzed, estimating the annual percentage change (APC) and average annual percentage change (AAPC), with a 95% confidence interval. The relative frequency of the problem was higher in 2020 (69.8%) and 2021 (71.7%), with an increase of 3.1% (p = 0.001) in 2017-2021. Girls were more affected, with rates rising in 2009-2012 (APC = 44.4; p = 0.010) and 2015-2019 (APC = 16.6; p=0.017) but falling in 2019-2021 (APC= -17.7; p = 0.042). All age groups showed a significant increase until 2019, and a reduction after this year for 5-9 years (APC = -18.6; p = 0.016), 10-14 years (APC = -14.1; p = 0.040) and 15-19 years (APC = -18.4; p = 0.021). The reduction in the incidence rates of this type of violence may have been influenced by the context of social isolation during the COVID-19 pandemic, which led to the underreporting of cases.