Fundamento: Pacientes com doença de Chagas com alteração segmentar apresentam pior prognóstico independentemente da fração de ejeção ventricular esquerda. A ressonância magnética cardíaca é atualmente o melhor método para detecção de alteração segmentar e para avaliação de fibrose miocárdica. Objetivo: Quantificar a fibrose, por meio do realce tardio, pela ressonância magnética cardíaca, em pacientes com doença de Chagas com fração de ejeção ventricular esquerda preservada ou minimamente comprometida (> 45%) e detectar padrões de dependência entre fibrose, alteração segmentar e fração de ejeção ventricular esquerda na presença de arritmia ventricular. Métodos: Foram realizados eletrocardiograma, teste ergométrico, Holter e ressonância magnética cardíaca em 61 pacientes, separados em três grupos: (1) eletrocardiograma normal e ressonância magnética cardíaca sem alteração segmentar; (2) eletrocardiograma alterado e ressonância magnética cardíaca sem alteração segmentar; e (3) ressonância magnética cardíaca com alteração segmentar independentemente de alteração no eletrocardiograma. Resultados: O número de pacientes com arritmia ventricular em relação ao número total de pacientes em cada grupo, a porcentagem de fibrose e a fração de ejeção ventricular esquerda foram, respectivamente: no primeiro grupo, 4/26, 0,74% e 74,34%; no segundo grupo, 4/16, 3,96% e 68,5%; e no terceiro grupo, 11/19, 14,07% e 55,59%. Arritmia ventricular foi encontrada em 31,1% dos pacientes. Aqueles com e sem arritmia ventricular apresentaram fração de ejeção ventricular esquerda média de 59,87% e 70,18%, respectivamente, e fibrose de 11,03% e 3,01%, respectivamente. Das variáveis alteração segmentar, grupos, idade, fração de ejeção ventricular esquerda e fibrose, a última foi a única significativa para a presença de arritmia ventricular, com ponto de corte de 11,78% para massa fibrosada (p < 0,001). Conclusão: Mesmo em pacientes com doença de Chagas com fração de ejeção ventricular esquerda preservada ou minimamente comprometida, a instabilidade elétrica pode estar presente. Fibrose é a variável mais importante para a presença de arritmia ventricular, sendo sua quantidade proporcional à complexidade dos grupos.
Background: Patients with Chagas disease and segmental wall motion abnormality (SWMA) have worse prognosis independent of left ventricular ejection fraction (LVEF). Cardiac magnetic resonance (CMR) is currently the best method to detect SWMA and to assess fibrosis. Objective: To quantify fibrosis by using late gadolinium enhancement CMR in patients with Chagas disease and preserved or minimally impaired ventricular function (> 45%), and to detect patterns of dependence between fibrosis, SWMA and LVEF in the presence of ventricular arrhythmia. Methods: Electrocardiogram, treadmill exercise test, Holter and CMR were carried out in 61 patients, who were divided into three groups as follows: (1) normal electrocardiogram and CMR without SWMA; (2) abnormal electrocardiogram and CMR without SWMA; (3) CMR with SWMA independently of electrocardiogram. Results: The number of patients with ventricular arrhythmia in relation to the total of patients, the percentage of fibrosis, and the LVEF were, respectively: Group 1, 4/26, 0.74% and 74.34%; Group 2, 4/16, 3.96% and 68.5%; and Group 3, 11/19, 14.07% and 55.59%. Ventricular arrhythmia was found in 31.1% of the patients. Those with and without ventricular arrhythmia had mean LVEF of 59.87% and 70.18%, respectively, and fibrosis percentage of 11.03% and 3.01%, respectively. Of the variables SWMA, groups, age, LVEF and fibrosis, only the latter was significant for the presence of ventricular arrhythmia, with a cutoff point of 11.78% for fibrosis mass (p < 0.001). Conclusion: Even in patients with Chagas disease and preserved or minimally impaired ventricular function, electrical instability can be present. Regarding the presence of ventricular arrhythmia, fibrosis is the most important variable, its amount being proportional to the complexity of the groups.