Resumo: Introdução: o estudo da morte envolve a exploração que o indivíduo faz na busca de si mesmo. A Medicina tende a negá-la e controlá-la por meio de avanços tecnológicos e medicalização, o que leva ao pensamento de que o médico pode regular a duração dela. A morte é carregada de significados simbólicos e faz parte do processo de desenvolvimento humano, contudo muitas vezes é desconhecida do estudante de Medicina, o que leva ao temor pela indefinição do momento em que ocorrerá o encontro. Inerente às atividades do médico, há a crença de que poderá ser sempre evitada, sendo entendida como falha ou insucesso do tratamento, ou como desconhecimento do profissional, provocando ansiedade e cobrança tanto por parte da população como dos médicos. Este estudo objetivou relatar a vivência e percepção sobre a morte entre estudantes de Medicina. Método: trata-se se um estudo qualitativo, observacional, realizado com 50 alunos de três períodos de um curso de Medicina em Alagoas, em 2018. Usou-se um questionário com a seguinte pergunta aberta: “Após a vivência da morte durante o curso, o que mudou na sua atuação como estudante e na sua vida?”. Os dados foram analisados manualmente em quatro etapas. A primeira fase consistiu na organização dos dados, procurando ideias que emergiram das respostas à questão norteadora, quando foi realizada a pré-análise, por meio de uma leitura aprofundada, na busca da criação das categorias, uma vez que elas não foram elaboradas previamente. A segunda fase correspondeu à elaboração da segunda planilha que armazenou as ideias explícitas (categorias provisórias) e implícitas (focos) com a identificação dos sentidos. A terceira fase procurou responder à pergunta da pesquisa por meio das unidades de registro, em que se relacionou a fala com o foco/tema e se identificou o sentido da inferência. A quarta fase compreendeu duas planilhas: uma com a interpretação dos focos e suas unidades de registros e outra com elaboração de síntese para cada foco. A vivência da morte pode acontecer em relação ao outro ou à própria morte, ocorrendo diferenças nos dois processos. Aqui abordagem concentrou-se na morte do outro e em como ela é vivenciada pelo estudante de Medicina durante a graduação. Resultados: Os dados obtidos resultaram em três categorias relacionadas à vivência da morte durante a graduação, refletindo o preparo ou não para lidar com o fenômeno. Cada categoria apresentou duas subcategorias: significação da morte, com as subcategorias “vida pessoal” e “vida profissional”; qualificação profissional, com as subcategorias “limites de atuação profissional” e “curso em relação à morte”; humanização, com as subcategorias “relação médico-paciente” e “cuidados paliativos”. Conclusão: A pesquisa mostrou que os discentes modificaram sua visão da morte após a vivência durante o curso e que estão despertos para o tema, revelando a importância deste para sua formação e também a necessidade da ampliação de sua discussão durante a graduação.
Abstract Introduction: the study of death involves the exploration in the search of oneself. Medicine tends to deny death and control it through technological advances and medicalization, leading to the thought that the doctor can regulate the duration of the process. Death is full of symbolic meanings and it is an important part of the human development process, often unknown by the medical students, which makes them fearful for not knowing when this meeting is going to happen. It is inherent to the doctor’s activities, believing it can be always avoided, being understood as a failure or unsuccessful treatment, or lack of knowledge by the professional, generating anxiety and demands, by the population and the doctors themselves. This research aims to report the experience and perception of death among medical students. Methods: it is a qualitative, observational study carried out with 50 students from three different semesters from a School of Medicine in the state of Alagoas, Brazil, in 2018. It was applied an instrument with an open question: After the experience of death during the course, what has changed in your performance as a student and in your life? The data was analyzed manually during four steps. The first phase consisted of organizing the data, looking for ideas that emerged from the answers to the guiding question, when the pre-analysis was carried out, through a deep reading aiming to define categories, since they had not been previously created; the second phase corresponded to the preparation of the second worksheet that stored the explicit and implicit ideas, the former being the temporary categories and the latter being the focus along with identification of the senses; the third phase sought to answer the study question through the record units, associating the speech to the focus/theme, identifying the sense of inference; the fourth phase was based on two spreadsheets, the first one with the interpretation of the main topics and their record units, and the second one with the creation of the synthesis for each focus. The experience of death may occur in relation to the other or to death itself, with differences between them. This research focus on the death of others and how undergraduate medical students experience it during the course, of which data resulted in three categories related to the experience of death during medical school, reflecting their capacity or not to deal with the phenomenon. Results: the three categories showed two subcategories, as follows: Acceptance of death, with subcategories in personal and professional life; Professional qualification with two subcategories: limits of professional performance and of the course in relation to death. The last category was Humanization, with two more subcategories: medical-patient relationship and palliative care. Conclusion: the research showed that the students modified their views about death during the course, and that they are aware of the topic, disclosing the value of this subject and also the need to discuss it during undergraduate school.