Neste artigo, trata-se o impacto de reestruturações de cunho gerencialista sobre a subjetividade de trabalhadores em organizações ambientalistas do terceiro setor historicamente ligadas à benemerência, ao humanismo e à luta por direitos. O crescimento dessa população organizacional tem gerado competição por recursos, com a consequente busca por sistemas e modelos gerenciais que possam viabilizar a sobrevivência de cada organização via vantagens comparativas associadas à eficácia, à eficiência, à efetividade e ao posicionamento de marca. Nesse contexto, percebe-se uma crescente adoção de modelos importados do segundo setor - privado de interesse privado. Elementos característicos do gerencialismo, tais como intensificação e aceleração do trabalho, precarização das relações trabalhistas e primazia do determinismo econômico, são também assimilados no processo. Investe-se no culto à excelência e na mobilização psíquica do sujeito como formas de se enquadrar a pessoa como ativo estratégico da organização. As práticas decorrentes chocam-se com os valores humanistas geralmente vigentes no terceiro setor, causando conflitos de racionalidade e intrapsíquicos. Desenvolveu-se pesquisa qualitativa e exploratória, baseada em entrevistas com profissionais de quatro organizações ambientais de relevo no País, para fazer emergir, por meio da análise do discurso, a percepção dos sujeitos sobre o fenômeno em questão. Os resultados mostram que a ideologia gerencialista foi, pelo menos nos casos estudados, assimilada pelo trabalhador, que as relações de trabalho estão se precarizando em nome da rentabilidade financeira dos investimentos na organização, que as estratégias de defesa e adesão implicam sofrimento subjetivo e que o terceiro setor se distancia crescentemente de sua identidade histórica de esfera de agenciamento marcada por uma racionalidade substantiva.
This article deals with the impact of managerialist restructuring processes upon the subjectivity of workers in environmentalist third sector organizations, historically connected to philanthropy and the struggle for human rights. The growth of this organizational population has generated competition for resources, with a consequent search for managerial systems and models capable of enabling survival of each organization via comparative advantage associated with efficacy, efficiency, effectiveness and brand position. In this context, there is a perceptible adoption of models imported from the second sector - private and private interest oriented. Elements peculiar to managerialism, such as work intensification and acceleration, precarization of labor relations and the primacy of economic determinism, are also assimilated in the process. There is an investment in the cult of excellence and mobilization of the subject's psyche as a means of framing the person as a strategic organizational asset. Resulting practices clash with humanist values generally nurtured in the third sector, causing conflicts of rationalities and intrapsychic turmoil. A qualitative and exploratory research, based on interviews with professionals from four relevant environmental organizations in Brazil, has been developed in order to reveal, by means of discourse analysis, how subjects perceive the given phenomenon. Results show that the managerialist ideology has been assimilated by workers, that labor relations undergo precarization in favor of financial rentability of the organizational investments, that defense and adhesion strategies cause subjective suffering and that the third sector is dissociating itself from its historical identity of a sphere of agency marked by a substantive rationality.
En este artículo, se trata del impacto de reestructuraciones de estilo gerencialista sobre la subjetividad de los trabajadores en organizaciones medioambientales del tercer sector, históricamente vinculadas al voluntariado, humanismo y la lucha por los derechos. El crecimiento de esa población organizacional ha generado competencia por recursos, con la consecuente búsqueda de sistemas y modelos de gestión que permitan la supervivencia de cada organización mediante ventajas comparativas asociadas con eficacia, eficiencia, efectividad y posicionamiento de marca. En este contexto, vemos una creciente adopción de modelos importados desde el segundo sector - privado de interés privado. Elementos característicos del gerencialismo, como la intensificación y aceleración del trabajo, la precarización de las relaciones laborales y la primacía del determinismo económico, también se asimilan en el proceso. Se invierte en el culto de la excelencia y en movilización psíquica del sujeto como maneras para enmarcar a la persona como activo estratégico de la organización. Las prácticas resultantes chocan con los valores humanistas que prevalecen generalmente en el tercer sector, causando conflictos de racionalidad e intrapsíquicos. Se desarrolló investigación cualitativa y exploratoria, basada en entrevistas con profesionales de cuatro importantes organizaciones ambientales en el país, para hacer emerger, a través de análisis del discurso, la percepción de los sujetos sobre el fenómeno en cuestión. Los resultados muestran que la ideología gerencialista fue, al menos en los casos estudiados, asimilada por el trabajador, que las relaciones laborales se están precarizando en nombre de la rentabilidad financiera de las inversiones en la organización, las estrategias de defensa y adhesión implican sufrimiento subjetivo y que el tercer sector se distancia cada vez más de su identidad histórica de esfera de agenciamento marcada por la racionalidad sustantiva.