Resumo: Buscou-se compreender as narrativas dos profissionais da atenção primária à saúde do Município do Rio de Janeiro, Brasil, sobre os desafios e as potencialidades das ações de vigilância alimentar e nutricional, no contexto do Programa Bolsa Família, frente aos limites de sua implementação. Trata-se de pesquisa com abordagem qualitativa, avaliativa e participativa. Foram realizados, entre 2018 e 2019, cinco grupos focais (GF) com 60 profissionais de nível superior de 24 unidades de saúde e um GF com 13 agentes comunitários de saúde. Com base no material transcrito dos GF foram construídas narrativas para cada grupo, produzindo uma síntese dos núcleos argumentais presentes nas falas. Posteriormente, foram realizados cinco grupos hermenêuticos para validação das narrativas e aprofundamento das discussões. No último encontro foram identificados os problemas e propostas relacionadas ao acompanhamento do Programa Bolsa Família. Na prática, o acompanhamento das condicionalidades é reduzido a “pesar e medir” as pessoas, sem que necessariamente se realize o diagnóstico nutricional para identificação de casos de risco e intervenção. Práticas como o “mutirão” no final da vigência do Programa Bolsa Família e a realização de medidas antropométricas pelos agentes comunitários de saúde, sem vinculação com a agenda das linhas de cuidado existentes, contribuem para este cenário. Prevalece uma visão burocrática dessas condicionalidades de saúde, apenas para garantir que a família não tenha o benefício cortado e o cumprimento das metas de gestão do Programa Bolsa Família. Ao longo da pesquisa, os profissionais construíram uma reflexão crítica desta prática e reconheceram sua potencialidade para o cuidado em saúde e nutrição das famílias.
Abstract: The study aimed to understand the narratives of primary healthcare workers in the city of Rio de Janeiro, Brazil, on the challenges and potentialities of food and nutritional surveillance activities in the context of the Brazilian Income Transfer Program, vis-à-vis the limits of its implementation. The study adopted a qualitative, evaluative, and participatory approach. From 2018 to 2019, five focus groups were held with 60 university-level healthcare workers from 24 health units and one focus group with 13 community health agents. The material transcribed from the focus groups was used to construct narratives for each group, producing a synthesis of the core arguments in the discourses. Five hermeneutic groups were later held for validation of the narratives and in-depth discussions. The last meeting identified problems and proposals related to follow-up of the Brazilian Income Transfer Program. In practice, follow-up of the conditionalities is limited to “weighing and measuring” individuals without necessarily conducting a nutritional diagnosis to identify cases of nutritional risk and intervention. Factors contributing to this scenario include practices such as mass assessment (“mutirão”) at the end of coverage by Brazilian Income Transfer Program and anthropometric measurements taken by community health agents, with no link to the existing lines of care. A bureaucratic vision of these health conditionalities prevails, merely to guarantee that the family does not lose the benefit and that the program’s administrative targets are met. Over the course of the study, the healthcare workers developed a critical analysis of this practice and acknowledge their own potential to care for the families’ health and nutrition.
Resumen: Se procuró comprender los relatos de los profesionales de atención primaria en salud del municipio de Río de Janeiro, Brasil, sobre los desafíos y las potencialidades de las acciones de vigilancia alimentaria y nutricional, en el contexto del Programa Bolsa Familia, frente a los límites de su implementación. Se trata de una investigación con un abordaje cualitativo, evaluativo y participativo. Se formaron, entre 2018 y 2019, cinco grupos focales (GF) con 60 profesionales de nivel superior de 24 unidades de salud y un GF con 13 agentes comunitarios de salud. En base al material transcrito de los GF, se construyeron relatos para cada grupo, produciendo una síntesis de los núcleos argumentales presentes en las conversaciones. Posteriormente, se compusieron cinco grupos hermenéuticos para la validación de los relatos y profundización de las discusiones. En el último encuentro se identificaron los problemas y propuestas relacionadas con el seguimiento del Programa Bolsa Familia. En la práctica, el seguimiento de las condicionalidades está reducido a “pesar y medir” a personas, sin que necesariamente se realice un diagnóstico nutricional para la identificación de casos de riesgo e intervención. Prácticas como el “mutirão” (actividad colectiva voluntaria), al final de la vigencia del Programa Bolsa Familia, y la realización de medidas antropométricas por parte de los agentes comunitarios de salud, sin vinculación con la agenda de las líneas de cuidado existentes, contribuyen a este escenario. Prevalece una visión burocrática de esas condicionalidades de salud, solamente para garantizar que a la familia no se le suprima el beneficio y el cumplimiento de las metas de gestión del Programa Bolsa Familia. A lo largo de la investigación, los profesionales construyeron una reflexión crítica de esta práctica y reconocieron su potencialidad para el cuidado en salud y nutrición de las familias.