O objetivo do texto é argumentar que um dos principais problemas da interpretação dos autores em questão - Bourdieu e Wacquant - é o fato de eles não terem tomado como referência a produção brasileira sobre relações raciais, limitando-se a poucos trabalhos produzidos, exclusivamente, pela academia norte-americana. Nesse sentido, o texto destaca alguns dos importantes aspectos desconsiderados por essa escolha. Em primeiro lugar, não há um consenso na própria literatura das relações raciais no Brasil, que produziu dois modelos excludentes - por um lado, enfatizam-se as desigualdades sociais e, de outro, assevera-se a cultura - demonstrando a impossibilidade de uma imposição americana no debate. O texto demonstra ainda que, embora tenha ocorrido uma influência advinda do movimento dos direitos civis dos Estados Unidos e que as medidas de "americanização" no debate ou nas ações do período governamental atual (com o início da implementação do sistema de cotas) sejam mais visíveis, há uma política identitária anterior a uma "influência" vinda exclusivamente de fundações e intelectuais norte-americanos, como demonstram diversos estudos sobre a "viabilização da nação" nas primeiras décadas do século XX.
This article intends to discuss one of the main problems of interpretation of Bourdieu and Wacquant that is connected with the fact that they didn't use as marks of reference the Brazilian intellectual production on racial relations, choosing only a few, North-American academic ones. In this sense, the author points out some important aspects that were not considered in this choice. First, there's no consensus in the Brazilian racial relations literature, which has produced two excludent models - on the one hand, the racial inequalities are emphasized; on the other, the culture is - demonstrating the impossibility of an American imposition on the debate. He also discuss that, although an influence of the United States movement for civil rights has occurred, and that the "Americanization" measures on the debate or in the actions in the recent governmental period (with the beginning of the quota system implementation) could be more perceivable, there was an identity policy before that "influence" that comes, exclusively, from North-American foundations and intellectuals. This can be observed through many studies about "nation viability", carried out in the first decades of the XXth century.
Dans cet article, on cherche à montrer que l'un des principaux problèmes de l'interprétation que Bourdieu et Wacquant proposent vient de ce qu'ils n'ont pas tenu compte de la production brésilienne au sujet des relations raciales, se bornant exclusivement à quelques travaux produits par des auteurs nord-américains. On souligne ici donc des aspects importants que ce choix a omis. Tout d'abord, le manque d'unanimité dans la littérature au Brésil sur les relations raciales donne lieu à deux modèles qui s'excluent - d'un côté, on distingue les inégalités sociales et, de l'autre, on fait référence à la culture - ce qui montre l'inutilité d'une contrainte américaine dans le débat. Il est bien vrai qu'il y a eu une influence venue des droits civils des États-Unis et que les mesures d'"américanisation" dans la discussion ou dans les actions de la période gouvernementale actuelle (avec la mise en place du système de quotas) sont plus visibles, mais il existait déjà une politique identitaire, bien avant une quelconque "influence" issue exclusivement de fondations et d'intellectuels nord-américains, ainsi qu'on peut le constater dans différentes études sur la "viabilité de la nation" parues dans les premières décennies du XXe siècle.