Resumo O artigo analisa o conteúdo programático do movimento antropofágico argumentando que ele encerra uma proposta de emancipação do homem, frequentemente expressa por meio de imagens utópicas. De acordo com Oswald de Andrade, a experiência de vida do indígena brasileiro representou uma utopia fundada em uma cosmovisão centrada em ideais de liberdade e igualdade, experiência que foi, porém, irremediavelmente destruída pela empresa colonizatória portuguesa, sendo impossível e mesmo inoportuno restaurá-la nos dias presentes. Entretanto, pretende-se mostrar como, para a antropofagia oswaldiana, o impulso primário de agressividade, que inspira as ações do nativo, deve ser recuperado, em um contexto histórico de crise da civilização ocidental, favorável à emergência de uma nova era utópica.
Abstract The article analyses the programmatic content of the anthropophagic movement, arguing that it contains a proposal for the emancipation of man, frequently expressed through utopian imagery. For Oswald de Andrade, the life experience of the Brazilian Indian represented a utopia founded on a cosmovision centred on the ideals of freedom and equality, an experience that was, however, irremediably destroyed by Portuguese colonization, making it impossible and even inopportune to restore it in the present. However, the aim is to show how, for Oswaldian anthropophagy, the primary impulse of aggression, which inspires the actions of the native, should be recuperated in a historical context of crisis in western civilization, favouring the emergence of a new utopian era.