RESUMO Antecedentes: Em 2019, testemunhou-se o surgimento de um novo tipo de coronavírus - o coronavírus associado à síndrome da angústia respiratória tipo 2 (SARS-CoV-2). O espectro da doença associada ao novo coronavírus, a COVID-19, é variável e, dentre suas manifestações, há implicações neurológicas. Objetivos: O presente estudo objetivou descrever achados eletroencefalográficos em pacientes com COVID-19 internados em um hospital terciário em São Paulo. Métodos: Tratou-se de estudo observacional, retrospectivo e não-intervencionista, realizado por meio de coleta anônima e retrospectiva de dados de prontuário médico de pacientes com diagnóstico confirmado (RT-PCR positivo) ou provável (CO-RADS 4 ou 5), que realizaram eletroencefalograma durante internação hospitalar. Resultados: Vinte e oito pacientes foram elencados, 17 (60,7%) mulheres e 11 homens. O diagnóstico de COVID-19 foi confirmado em 22 (78,5%) dos casos. Dos pacientes, 21 (75%) apresentaram a doença, requerendo suporte ventilatório, e 16 (57,1%) desenvolveram sepse sobreposta. Não houve padrão específico de EEG para COVID-19, e nenhum paciente apresentou estado de mal epiléptico ou crise eletrográfica; a maioria desenvolveu padrão de encefalopatia, com alentecimento da atividade cerebral, sendo a alta prevalência de alteração de estado mental a indicação para o exame. A sepse sobreposta foi associada a um pior desfecho, com maior mortalidade. Conclusão: No contexto da COVID-19, o EEG figura como ferramenta importante, auxiliando, como em outras condições, na diferenciação entre estado de mal epiléptico, encefalopatia e outras causas de alteração do estado mental. Estudos adicionais são necessários para avaliar a existência de padrão específico de alteração eletroencefalográfica na COVID-19.
ABSTRACT Background: In 2019, the world witnessed the emergence of a new type of coronavirus - the severe acute respiratory syndrome coronavirus 2 (SARS-CoV-2). The spectrum of coronavirus disease 2019 (COVID-19) is variable, and amongst its manifestations are neurological implications. Objective: This report aimed to describe electroencephalographic findings in COVID-19 patients from a general tertiary hospital in São Paulo, Brazil. Methods: It was a retrospective, observational, and non-interventional study. Data were collected anonymously, comprising inpatients from Mar 1 to Jun 30, 2020, either confirmed (positive RT-PCR) or probable cases (CO-RADS 4/5) who had performed EEG during hospitalization. Results: Twenty-eight patients were enrolled, 17 (60.7%) women and 11 men, with a median age of 58 (minimum and maximum: 18-86; IQR 23.5). COVID-19 diagnosis was confirmed in 22 (78.5%). Twenty-one patients (75%) had severe disease, requiring mechanical ventilation due to acute respiratory distress syndrome (ARDS); 16 (57.1%) patients developed adjunct sepsis throughout hospitalization. There was no specific pattern found for COVID-19 in EEG. No patients presented with status epilepticus or electrographic events; most patients developed an encephalopathic pattern, as seen in most studies, with a high prevalence of altered mental status as an indication for EEG. Adjunct sepsis was associated with higher mortality. Conclusions: EEG presents as a useful tool in the context of COVID-19, as in other conditions, to differentiate nonconvulsive status epilepticus (NCSE) from encephalopathy and other causes of mental status alterations. Further studies are required to analyze whether there might be a specific EEG pattern to the disease.