As mulheres pobres do programa Bolsa Família são acusadas de ter mais filhos para ingressar ou permanecer no programa. Em pesquisa etnográfica (2012/2014), analisamos os relatos de cinco beneficiárias e observamos o contrário. Elas procuraram pela esterilização no serviço público de saúde de Recife, Pernambuco, Brasil, para não ter mais filhos e enfrentaram diversos obstáculos. Dentre os impeditivos, apontaram dificuldades na contracepção reversível, bem como restrição da oferta de esterilização no serviço público de saúde, o que aumenta a procura durante o parto cesariano. O argumento de ser beneficiária do Bolsa Família é utilizado para reforçar a condição de pobreza e aumentar as chances de conseguir a esterilização, nem sempre exitoso. Apenas duas mulheres conseguiram realizar a esterilização, atribuindo o êxito à “sorte” ou à “graça de Deus”, não ao acesso a um direito. Os resultados do presente estudo sugerem que o aumento da prole não é resultante do ingresso no programa, e sim à falta de acesso a direitos reprodutivos.
Poor women in the Bolsa Família program are accused of having more children in order to enroll or remain in the program. In an ethnographic study (2012-2014), we analyzed reports by five beneficiaries of the program and found exactly the opposite. The women reported that they had gone to public health services in Recife, Pernambuco State, Brazil, in hopes of avoiding more children, but that they had encountered various obstacles. Such barriers included difficulties in obtaining reversible contraception and restrictions in the supply of sterilization in these services, which increases the demand for cesarean sections. Their argument that they are beneficiaries of Bolsa Família aims to emphasize their poverty and increase the odds of obtaining sterilization (not always successful). Only two of the women had succeeded in obtaining sterilization, which they attributed to “luck” and “the grace of God” rather than as a right. The study’s findings suggest that poor women increase their offspring not because they are enrolled in Bolsa Família, but due to the lack of access to reproductive rights.
A las mujeres pobres del programa Beca Familia se les acusa de tener más hijos para acceder o permanecer en este programa de ayuda social. En una investigación etnográfica (2012/2014), analizamos los relatos de cinco beneficiarias y observamos lo contrario. Ellas buscaron su esterilización en el servicio público de salud de Recife, Pernambuco, Brasil, para no tener más hijos y enfrentaron diversos obstáculos. Entre los impedimentos, apuntaron dificultades en la contracepción reversible, así como la restricción de la oferta de esterilización en el servicio público de salud, lo que aumenta su búsqueda durante el parto con cesárea. El argumento de ser beneficiaria del Beca Familia se utiliza para reforzar la condición de pobreza y aumentar las oportunidades de conseguir la esterilización, no siempre exitosa. Solamente dos mujeres consiguieron ser esterilizadas, atribuyendo el éxito a la “suerte” o a la “gracia de Dios”, no al acceso a un derecho. Los resultados del presente estudio sugieren que el aumento de la prole no es resultante del acceso a este programa, sino a la falta de acceso a derechos reproductivos.