Introdução: A longevidade crescente e o aumento das doenças crónicas justificam o número de doentes com necessidades paliativas nos serviços de Medicina Interna. O internista deve estar capacitado para assegurar cuidados de conforto no fim da vida dos doentes que assiste. O objectivo do estudo foi analisar a terapêutica realizada e os exames complementares de diagnóstico (ECD) solicitados nas 48 horas antes do óbito. Métodos: Estudo retrospectivo observacional, com análise de 100 óbitos consecutivos (de doentes com “indicação para não reanimar”) ocorridos no Serviço de Medicina Interna durante um ano. Resultados: A duração do internamento foi de 9,4 ± 7,9 dias, a idade de 86,5 ± 9,9 anos, sem diferenças de género. Verificou-se que 71,0% dos doentes tinha, pelo menos, um ECD pedido. Dos ECD constavam análises sanguíneas (54,0%), hemoculturas (17,0%), radiografias (19,0%), ecografias (8,0%) ou tomografia axial computorizada (2,0%). Foram prescritos: nebulizações (76,0%), antibioterapia (74,0%, sendo 44,6% de largo espectro), heparina de baixo peso molecular (71,0%), analgésicos não opióides (53,0%), entre outros. Em 28,0% dos casos não havia qualquer analgesia prescrita. A taxa de prescrição de opióides foi de 19,0%. Conclusão: É urgente a necessidade de mudança de paradigma na assistência de doentes vulneráveis. A medicina não deve ter sempre um fulgor curativo, porém deve permanentemente cuidar, respeitando os valores culturais, clínicos e éticos da relação médico-doente. O internista deve nos doentes em fim de vida melhorar o seu controlo sintomático e evitar o recurso a ECD inapropriados e sem qualquer benefício acrescido para a pessoa humana.
Introduction:The increasing longevity and number of chronic diseases justify the number of patients with palliative needs in Internal Medicine services. The internist should be able to ensure comfort care at the end of life of the patients he is attending. The study objective was to analyze the therapy performed and complementary diagnostic tests (CDT) requested within 48 hours before death. Methods: Retrospective observational study with 100 consecutive deaths (from patients with “do not resuscitate indication”) occurring in the Internal Medicine Service for a year. Results: The length of stay was 9.4 ± 7.9 days, the age 86.5 ± 9.9 years, with no gender differences. It was found that 71.0% of patients had at least one CDT application. CDTs included blood tests (54.0%), blood cultures (17.0%), radiographs (19.0%), ultrasound scans (8.0%) or computerized axial tomography (2.0%). They were prescribed: nebulizations (76.0%), antibiotic therapy (74.0%, being 44.6% broad spectrum), low molecular weight heparin (71.0%), nonopioid analgesics (53.0%), among others. In 28.0% of cases there was no prescribed analgesia. The opioid prescription rate was 19.0%. Conclusion: There is an urgent need for a paradigm shift in the care of vulnerable patients. Medicine should not always have a healing glow, but it must always take care, respecting the cultural, clinical and ethical values of the doctor-patient relationship. The internist should in end-of-life patients improve their symptomatic control and avoid the use of inappropriate CDTs without any added benefit to the human person.