O Brasil tem uma alta prevalência de laqueadura tubária. Alguns setores da sociedade acreditam que essa alta prevalência estaria indicando um controle da natalidade dissimulado, que visa diminuir a fecundidade nas camadas mais pobres da população. O objetivo deste trabalho é contribuir para a compreensão das possíveis diferenças sócio-econômicas quanto à prática da laqueadura. Para este fim, analisamos uma base de dados com 1.335 mulheres com idade de 15 a 49 anos, obtida entre mulheres de nível sócio-econômico médio-baixo ou baixo, em duas regiões do Estado de São Paulo, no ano de 1991. Os resultados mostraram uma aparentemente maior prevalência de laqueadura entre as mulheres com menor nível educacional e também entre as que moravam em habitação de boa qualidade. Entretanto, ao controlar por idade, essas associações desapareceram, sugerindo que se deviam apenas a menor escolaridade e maiores recursos das mulheres de maior idade, sendo este último o fator mais fortemente associado à prevalência de laqueadura. Discute-se a complexidade das relações entre nível sócio-econômico e ligadura tubária, incluindo a diferença sócio-econômica na prevalência de cesárea, intimamente ligada à esterilização feminina.
Brazil has a high prevalence of tubal ligation. The hypothesis that it indicates undercover birth control efforts specifically addressed to the poorest sector of Brazilian society has been raised. The purpose of this paper is to evaluate whether there are differences in rates of tubal ligation depending on socioeconomic status. Data were gathered from interviews with 1335 women 15-49 years of age, of low or lower-middle socioeconomic status, carried out in 1991 in two regions of the State of São Paulo. The results showed an apparently higher prevalence of tubal ligation among women with less schooling,, but also among those living in better housing. However, after controlling for women's age, these associations disappeared, suggesting that they were explained by lower educational levels and greater economic resources of women of older age, where the latter factor is more heavily associated with a higher prevalence of tubal ligation. The complexity of the associations between socioeconomic status and tubal ligation are discussed, including the correlations between socioeconomic status and C-sections, which are in turn closely related to tubal ligation.