Resumo O Baile da Chatuba é realizado desde meados dos anos 1990 na Quadra da Chatuba, Morro da Chatuba, parte do Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro. A ocupação militar do Complexo da Penha em 2010 e a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Morro em 2012 restringiram o uso da Quadra, e o Baile foi suspenso. Em 2014 a Secretaria de Cultura do Estado patrocinou seu retorno, negociado entre os realizadores, integrantes da UPP, a Secretaria de Cultura, varejistas de substâncias ilícitas e moradores. Excluiu-se o subgênero de funk carioca cujas narrativas evocam a vida no crime: o proibidão, em função do qual o evento se tornara conhecido. Pesquisa histórica, análises fonográficas e trabalho de campo conduzido entre 2005 e 2015 reúnem-se nos âmbitos de uma antropologia urbana e de uma musicologia relacional (Born 2010) para inserir tal processo na história da criminalização das festas populares do bairro da Penha. Eximidos de uma visão linear e evolucionista da história (Benjamin 1985), a Festa da Penha e o Baile da Chatuba emergem como alegorias de uma história de longa duração das culturas da diáspora negra. Essa história articula criminalização e sobrevivência, e sugere que o proibidão seja parte de construções de identidade referenciadas nas experiências compartidas da violência armada e da violação de direitos.
Abstract The Baile da Chatuba (Chatuba dance) has taken place since the mid 1990s at the Quadra da Chatuba (Chatuba sports facility), on the Morro da Chatuba (Chatuba hill), which forms part of the Complexo da Penha (Penha complex of favelas), in the Zona Norte (northern region) of Rio de Janeiro city. Military occupation of the Complexo in 2010 and the installation of an Unidade de Polícia Pacificadora (pacifying police unit) on the hill in 2012 entailed restricted access to that facility, and the dances were forbidden. In 2014 the Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro (Culture Bureau of the Rio de Janeiro State) sponsored their revival. There followed negotiations between the organizers, UPP officers, the Secretaria de Cultura, illicit-substance retailers, and the community. The subgenre of música funk (baile-funk music) that deals with life in crime, proibidão, for which Chatuba was renowned, ought to be excluded. Historical research, analyses of recordings, and fieldwork conducted from 2005 to 2015 come together within the frameworks of an urban anthropology and of a relational musicology (Born 2010) to inscribe such process in the history of the criminalization of popular partying in the Penha neighbourhood. Exempt from a linear and evolutionary view of history (Benjamin 1985), Festa da Penha (Penha Feast) and Baile da Chatuba appear as allegories of a long-haul history of the African-diaspora cultures. This history articulates criminalization and survival, and suggests that proibidão participates in the construction of identities whose references lie in shared experiences of armed violence and violation of rights.
Resumen El Baile de la Chatuba se realiza desde mediados de los años 1990 en la Cancha de la Chatuba, Cerro de la Chatuba, parte del Complejo de la Penha, en la Zona Norte de Río de Janeiro. La ocupación militar del Complejo de la Penha en 2010 y la instalación de una Unidad de Policía Pacificadora (UPP) en el Cerro en 2012 restringieron el uso de la Cancha, y el Baile se suspendió. En 2014 la Secretaría de Cultura del Estado patrocinó su retorno, negociando entre los realizadores, integrantes de la UPP, la Secretaría de Cultura, vendedores al pormenor de substancias ilícitas y residentes locales. Se excluyó el subgénero del funk carioca cuyas narrativas evocan la vida en el crimen: el proibidão, en función del cual el evento se había vuelto conocido. Investigación histórica, análisis fonográficos y trabajo de campo realizado entre 2005 y 2015 se reúnen en los ámbitos de una antropología urbana y de una musicología relacional (Born 2010) para incorporar tal proceso en la historia de la criminalización de las fiestas populares del barrio de la Penha. Eximidos de una visión lineal y evolucionista de la historia (Benjamin 1985), la Fiesta de la Penha y el Baile de la Chatuba emergen como alegorías de una historia de larga duración de las culturas de la diáspora negra. Esa historia articula criminalización y supervivencia, y sugiere que el proibidão es parte de construcciones de identidad referidas a experiencias compartidas de la violencia armada y de la violación de derechos.