Abstract In this article, I use a socio-anthropological perspective to analyze the configurations and developments of the first five cases of an HIV “cure” or “long-term remission”. These unprecedented results in the history of medicine were achieved through experimental stem cell transplants, whose donors had a rare genetic mutation called CCR5Δ32/Δ32, which confers a “natural resistance” to HIV infection. More specifically, I seek to explore the role of hope in these assemblages, that is, how it is manifest in narratives and composes situated practices. To do so, I collected and analyzed the content of scientific, journalistic, and biographical documents in a cartographic exercise (2008-2023). I observed that the first “success stories” in curative therapies for HIV can be seen as events in the trajectory of the HIV/AIDS pandemic that promoted short-circuits in the status quo and sparked new techno-scientific controversies. In this context, hope reveals complex and fluid connections, mobilizes desires, creates possibilities, attracts investments, and fosters discourses about the supposed “end” of the HIV/AIDS pandemic. Finally, I suggest that this reflection is situated within a broader technobiopolitical network, which I call the “political economy of the HIV cure”.
Resumo Neste artigo, analiso as configurações e desdobramentos dos primeiros cinco casos de “cura” ou “remissão de longo prazo” do HIV, a partir de uma perspectiva socioantropológica. Esses resultados inéditos na história da medicina foram alcançados por meio de transplantes experimentais de células-tronco, cujos doadores apresentavam uma mutação genética rara denominada CCR5Δ32/Δ32, a qual confere uma “resistência natural” à infecção pelo HIV. De modo mais específico, busco explorar o papel da esperança nesses agenciamentos, isto é, de que modo se manifesta em narrativas e compõe práticas situadas. Para este propósito, coletei e analisei o conteúdo de diferentes documentos científicos, jornalísticos e biográficos em um exercício cartográfico (2008-2023). Observo que os primeiros “casos de sucesso” em terapias curativas para HIV podem ser apreendidos como acontecimentos na trajetória da pandemia de HIV/aids, promovendo curtos-circuitos em estados de coisas e suscitando o despertar de novas controvérsias tecnobiocientíficas. Nesse cenário, a esperança revela conexões complexas e fluidas, mobiliza desejos, cria possibilidades, atrai investimentos e fomenta discursos sobre o suposto “fim” da pandemia de HIV/aids. Por fim, sugiro que esta reflexão esteja situada dentro de uma rede tecnobiopolítica mais ampla, a qual denomino de “economia política da cura do HIV”.