RESUMO O artigo busca estabelecer interfaces entre a Grande Depressão dos anos 1930 sob o Padrão Ouro e a Crise Europeia recente sob o Euro. Argumenta-se que, a despeito de suas especificidades, as duas crises revelaram os efeitos potencialmente nocivos, em termos econômicos e sociais, de arranjos institucionais que reduzem consideravelmente a autonomia das políticas monetária, fiscal e cambial dos países participantes, sem, entretanto, serem acompanhados pelo aumento da cooperação liderado por uma potência hegemônica, em âmbito global (no caso da Grande Depressão) ou regional (no caso da Crise Europeia), que não apenas seja capaz, mas que também esteja disposta a exercer as funções de comprador e emprestador de última instância, sobretudo em momentos caracterizados pelo aumento da incerteza, pela deterioração do estado geral das expectativas e pelo aumento da preferência pela liquidez. De fato, tanto os países do centro europeu no passado como os países da periferia europeia no período recente foram efetivamente empurrados em direção a ajustes deflacionários em que a redução de preços e salários foi acompanhada pela redução da produção e do emprego. Assim, na ausência da possibilidade de se restaurar a autonomia de política econômica, a superação da crise pressupõe, tanto antes - sob o padrão ouro - como atualmente - sob o Euro -, ações conjuntas destinadas a assegurar que a responsabilidade do ajuste seja distribuída igualmente entre as economias e que, portanto, algumas delas não sejam beneficiadas à custa de outras nesse processo.
ABSTRACT The paper aims to establish interfaces between the Great Depression of the 1930s under the Gold Standard and the recent European Crisis under the Euro. It is argued that, despite their specificities, both crises revealed the potentially harmful effects, in economic and social terms, of institutional arrangements that considerably reduce the autonomy of monetary, fiscal and exchange rate policies of participating countries, without being accompanied by increased cooperation between them, which should be led by a global (in the case of the Great Depression) or regional (in the case of the European Crisis) hegemonic power, which is not only capable of, but is also willing to act as a buyer and lender of last resort, especially in circumstances characterized by increased uncertainty, the deterioration of the general state of expectations and increased liquidity preference. In fact, central European countries in the past and peripheral European countries nowadays were effectively pushed toward deflationary adjustments in which a reduction of prices and wages was accompanied by a reduction of output and employment levels. Thus, in the absence of the possibility of restoring the autonomy of economic policy, the overcome of the crisis necessarily requires, both before - under the Gold Standard - and nowadays - under the Euro -, joint actions aimed to assure that the responsibility for the adjustment will be equally distributed among all the economies, in order to avoid that some of them benefit at the expense of the others in this process.