Resumo Fundamentos: A elevada morbimortalidade da cardiotoxicidade associada à terapia antineoplásica para o câncer de mama poderia ser reduzida com uso precoce de drogas cardioprotetoras. No entanto, a baixa sensibilidade da fração de ejeção limita sua utilização nessa estratégia preventiva. Novos parâmetros, como o strain longitudinal global, estão sendo utilizados na detecção precoce das alterações da função contrátil. Objetivos: Avaliar a incidência de cardiotoxicidade entre pacientes tratados para câncer de mama, os fatores independentes associados a esse evento e a capacidade do strain em identificá-la precocemente. Métodos: Estudo prospectivo observacional de pacientes ambulatoriais consecutivos com diagnóstico de câncer de mama, sem tratamento antineoplásico prévio, sem disfunção ventricular, submetidos ao uso de antracíclicos e/ou trastuzumab, avaliados trimestralmente de forma cega em relação à terapia, seguidos por 6 a 12 meses. Regressão de Cox foi utilizada para avaliar a associação de variáveis clínicas, terapêuticas e ecocardiográficas com cardiotoxicidade. Curva ROC foi construída para identificar o ponto de corte do strain capaz de prever redução da fração de ejeção. Para todos os testes, o nível de significância estatística foi definido com p ≤ 0,05. Resultados: Dentre 49 mulheres com idade média de 49,7 ± 12,2 anos, identificamos 5 casos de cardiotoxicidade (10%), aos 3 (n = 2) e 6 (n = 3) meses de seguimento. Strain foi associado de forma independente ao evento (p = 0,004; HR = 2,77; IC95%: 1,39-5,54), tendo como ponto de corte o valor absoluto de -16,6 (ASC = 0,95; IC95%: 0,87-1,0) ou redução de 14% (ASC = 0,97; IC95%: 0,9-1,0). Conclusão: A redução de 14% do strain (ou valor absoluto de -16,6) foi capaz de identificar precocemente pacientes que podem evoluir com cardiotoxicidade associada ao antracíclico e/ou trastuzumab.
Abstract Background: The high cardiotoxicity morbidity and mortality rates associated with the antineoplastic therapy for breast cancer could be reduced with the early use of cardioprotective drugs. However, the low sensitivity of left ventricular ejection fraction limits its use in that preventive strategy. New parameters, such as global longitudinal strain, are being used in the early detection of contractile function changes. Objectives: To assess the incidence of cardiotoxicity in patients treated for breast cancer, the independent factors associated with that event, and the ability of strain to identify it early. Methods: Prospective observational study of consecutive outpatients diagnosed with breast cancer, with no previous antineoplastic treatment and no ventricular dysfunction, who underwent anthracycline and/or trastuzumab therapy. The patients were quarterly evaluated on a 6- to 12-month follow-up by an observer blind to therapy. Cox regression was used to evaluate the association of cardiotoxicity with clinical, therapeutic and echocardiographic variables. A ROC curve was built to identify the strain cutoff point on the third month that could predict the ejection fraction reduction on the sixth month. For all tests, the statistical significance level adopted was p ≤ 0.05. Results: Of 49 women (mean age, 49.7 ± 12.2 years), cardiotoxicity was identified in 5 (10%) on the third (n = 2) and sixth (n = 3) months of follow-up. Strain was independently associated with the event (p = 0.004; HR = 2.77; 95%CI: 1.39-5.54), with a cutoff point for absolute value of -16.6 (AUC = 0.95; 95%CI: 0.87-1.0) or a cutoff point for percentage reduction of 14% (AUC = 0.97; 95%CI: 0.9-1.0). Conclusion: The 14% reduction in strain (absolute value of -16.6) allowed the early identification of patients who could develop anthracycline and/or trastuzumab-induced cardiotoxicity.