Resumo: O contexto da COVID-19 possibilitou aos profissionais da categoria enfermagem, estarem em estado de alerta e abalo emocional, e se viram receosos em realizar procedimentos em pacientes suspeitos ou confirmados de COVID-19. Objetivo: Apreender as circunstâncias geradoras de medo vivenciadas pelos profissionais de enfermagem no contexto da pandemia da COVID-19. Método: Estudo qualitativo, exploratório, desenvolvido nas cinco regiões geográficas do Brasil, por meio de entrevistas em ambiente virtual com 215 profissionais, entre abril e dezembro de 2020. Os dados foram processados pelo software IRaMuTeQ® e analisados à luz do referencial teórico-filosófico da Sociologia Fenomenológica. Resultados: Maioria do sexo feminino, média de 37,9 anos, casada, branca e parda, técnicas de enfermagem (15,5%) e enfermeiras (84,5%), trabalhando em instituições públicas. O corpus textual foi dividido pelo software em 3 classes e subclasses: medo das circunstâncias da vida pessoal e familiar, relacionado ao risco de autocontaminação, transmissão, perda de familiares, colegas de trabalho e da própria vida; medo da exposição e do distanciamento social diante da sensação de solidão advinda do distanciamento social, apesar de compreenderem que solidão implica na ausência de conexões emocionais com as pessoas ao redor, e não associada ao distanciamento físico; medo das condições subjetivas e objetivas de trabalho, relacionado à insegurança diante das condições precárias de trabalho, como infraestrutura física, insumos para biossegurança, recursos humanos, despreparo técnico, falta de treinamento e capacitações para assumir unidades de alta complexidade no cuidado, como as necessidades de adquirir e aprimorar conhecimentos técnico-científicos. Conclusão: As circunstâncias geradoras de medo são múltiplas e se processam nas dimensões físicas, sociais, psicológicas e laborais, e demarca a falta de conhecimentos sobre a doença. As interpretações do mundo cotidiano se baseiam num estoque de experiências anteriores e transmitidas pelos nossos predecessores, se não as tiveram (não viveram uma pandemia) dificilmente conseguem lidar com a problemática atual.
Abstract: The context of COVID-19 made it possible for professionals in the nursing category to be in a state of alert and emotional distress, and they were afraid to perform procedures on suspected or confirmed patients of COVID-19. Objective: To understand the fear-generating circumstances experienced by nursing professionals in the context of the COVID-19 pandemic. Method: Qualitative, exploratory study, developed in the five geographic regions of Brazil, through interviews in a virtual environment with 215 professionals, between April and December 2020. The data were processed by the IRaMuTeQ® software and analyzed in the light of the theoretical-philosophical framework of Phenomenological Sociology. Results: Most females mean 37.9 years old, married, white and mixed-race, nursing technicians (15.5%) and nurses (84.5%), working in public institutions. The textual corpus was divided by the software into 3 classes and subclasses: fear of personal and family life circumstances, related to the risk of self- contamination, transmission, loss of family members, co-workers and life itself; fear of exposure and social distancing in the face of the feeling of loneliness arising from social distancing, despite understanding that loneliness implies the absence of emotional connections with the people around, and not associated with physical distance; fear of subjective and objective working conditions, related to insecurity in the face of precarious working conditions, such as physical infrastructure, biosafety inputs, human resources, technical unpreparedness, lack of training and qualifications to take on highly complex care units, such as the needs to acquire and improve technical-scientific knowledge. Conclusion: The circumstances that generate fear are multiple and are processed in the physical, social, psychological and work dimensions, and it marks the lack of knowledge about the disease. The interpretations of the everyday world are based on a stock of previous experiences and transmitted by our predecessors, if they didn't have them (didn't live a pandemic) they can hardly deal with the current problem.