RESUMOEstruturas glaciotectônicas estudadas nos depósitos siliciclásticos da Formação Cabeças do Devoniano Superior representam a primeira evidência da glaciação fameniana na borda Sudeste da Bacia do Parnaíba, no Norte do Brasil. A análise estratigráfica e faciológica em combinação com estudos geométrico-estruturais desses depósitos permitiram definir três associações de fácies (AF) representativas de um ciclo de avanço-recuo de geleira, a saber: associação de fácies de frente deltaica (AF1), composta por pelitos maciços, arenitos finos a médios com estratificação cruzada sigmoidal e conglomerado maciço, organizados em ciclos grano- e estrato-crescentes; associação de fácies subglaciais (AF2), consistindo de diamictitos maciços seixosos (seixos de arenito, pelito e rochas vulcânicas) e feições deformacionais, tais como brechas intraformacionais, sills e diques clásticos de diamictitos, dobras, falhas normais e de cavalgamento, pods de arenitos e plano de descolamento; e associação de fácies de frente deltaica de degelo (AF3), constituída por arenitos maciços ou laminados (estratificação plano-paralela e/ou cruzada sigmoidal), localmente com deformações sin-sedimentares. Três fases deposicionais são indicadas para os depósitos da Formação Cabeças: instalação de um sistema deltaico (AF1), advindo de áreas soerguidas do Sudeste da bacia; avanço de geleiras costeiras, que causa cisalhamento tangencial e erosão do substrato (AF1), em zona subglacial (AF2), desenvolvendo superfície de descolamento, rompimento e rotação de camadas arenosas ou pods imersos em diamicton; e recuo das geleiras acompanhado pelo aumento relativo do nível do mar, pela instalação de um sistema deltaico de degelo de alta energia (AF3) e processos de alívio de pressão que geram falhas normais, escorregamento de massa, dobras e injeções de diques e sills. O aumento contínuo do nível do mar levou à deposição dos sedimentos finos da Formação Longá na zona de transição offshore/shoreface no início do Carbonífero.
ABSTRACTGlaciotectonic features studied in the siliciclastic deposits of Cabeças Formation, Upper Devonian, represent the first evidence of Famennian glaciation in Southeastern Parnaíba Basin, Brazil. Outcrop-based stratigraphic and facies analyses combined with geometric-structural studies of these deposits allowed defining three facies association (FA). They represent the advance-retreat cycle of a glacier. There are: delta front facies association (FA1) composed of massive mudstone, sigmoidal, medium-grained sandstone with cross-bedding and massive conglomerate organized in coarsening- and thickening-upward cycles; subglacial facies association (FA2) with massive, pebbly diamictite (sandstone, mudstone and volcanic pebbles) and deformational features, such as intraformational breccia, clastic dikes and sills of diamictite, folds, thrust and normal faults, sandstone pods and detachment surface; and melt-out delta front facies associations (FA3), which include massive or bedded (sigmoidal cross-bedding or parallel bedding) sandstones. Three depositional phases can be indicated to Cabeças Formation: installation of a delta system (FA1) supplied by uplifted areas in the Southeastern border of the basin; coastal glacier advance causing tangential substrate shearing and erosion (FA1) in the subglacial zone (FA2), thus developing detachment surface, disruption and rotation of sand beds or pods immersed in a diamicton; and retreat of glaciers accompanied by relative sea level-rise, installation of a high-energy melt-out delta (FA3) and unloading due to ice retreat that generates normal faults, mass landslide, folding and injection dykes and sills. The continuous sea-level rise led to the deposition of fine-grained strata of Longá Formation in the offshore/shoreface transition in the Early Carboniferous.