Resumo Este ensaio propõe uma pragmática das relações entre vida e economia, explorando regiões de contato entre ambos os conceitos. O foco são as chamadas “emergências econômicas”, nas quais se coloca em jogo o acesso aos “essenciais para a vida”, quando não a própria vida biológica de seres humanos. Nas emergências, as relações entre vida e economia passam a ser objeto de controvérsia pública, aparecem nos posicionamentos dos especialistas e, também, no dia a dia das pessoas que fazem as suas vidas mobilizando disposições incorporadas no tempo longo de outras crises. O texto tematiza formas monetárias de calcular o valor da vida que sustentam o conceito de custo de vida e modos de articular a materialidade da vida com a moralidade da pessoa na busca pela vida e por uma vida que merece ser vivida em situações de extrema pobreza e precariedade. O fundamento etnográfico do ensaio e do programa de pesquisas que ele propõe está em pesquisas realizadas sobre as hiperinflações brasileira e argentina de fim do século passado, sobre as dinâmicas econômicas em paisagens de extrema pobreza, como as dos bairros populares de Port-au-Prince, capital do Haiti, especialmente no período posterior ao terremoto de 12 de janeiro de 2010, e sobre alguns traços das atmosferas da emergência que envolvem a crise suscitada pela pandemia de covid-19.
Abstract This article argues for a pragmatics of the relations between life and economy, exploring regions of contact between both concepts. Its focus is on the so-called “economic emergencies” where access to the “essentials of life”, if not the biological life of human beings themselves, are at stake. In emergencies, the relationship between life and economy becomes an object of public controversy, appears in the elaborations of experts, and in the daily lives of people who make a living by mobilizing dispositions incorporated in the long time of other crises. The text thematizes the monetary ways of calculating the value of life that underpin the concept of cost of living and ways of articulating the materiality of life with the morality of the person in the search for life and for a life worth living in situations of extreme poverty and precariousness. The ethnographic basis of the article and the research program it proposes rests in research conducted on the Brazilian and Argentine hyperinflations of the end of the last century, on economic dynamics in landscapes of extreme poverty, such as those of the poor neighborhoods of Port-au-Prince, capital of Haiti, especially following the earthquake of January 12, 2010, and on some traces of the atmospheres of emergency surrounding the crisis of the covid-19 pandemic.
Resumen Este ensayo propone una pragmática de las relaciones entre vida y economía explorando regiones de contacto entre ambos conceptos. La atención se centra en las llamadas “emergencias económicas”, en las que está en juego el acceso a lo “esencial para la vida”, o incluso la propia vida biológica de los seres humanos. En las emergencias, las relaciones entre vida y economía se convierten en objeto de controversia pública, surgen en la toma de posición de los expertos y, también, en el día a día de las personas que hacen sus vidas movilizando disposiciones incorporadas durante otras crisis. El texto tematiza las formas monetarias de calcular el valor de la vida que sustentan el concepto de costo de vida y formas de articular la materialidad de la vida con la moralidad de la persona en la búsqueda por la vida y por una vida que merezca ser vivida, en situaciones de extrema pobreza y precariedad. El fundamento etnográfico del ensayo y el programa de investigación que se propone aquí se fundamenta en investigaciones sobre las hiperinflaciones brasileña y argentina de finales del siglo pasado, sobre las dinámicas económicas en escenarios de extrema pobreza, como los de los barrios populares de Port-au-Prince, capital de Haití, especialmente en el periodo posterior al terremoto del 12 de enero de 2010, y sobre algunos rastros de las atmósferas de emergencia que rodearon la crisis suscitada por la pandemia del covid-19.