O artigo trata das relações entre "crime organizado" e "crime comum" no Rio de Janeiro. Seu objetivo é definir as condições para responder a questões como quanto o crime organizado explica as lógicas do crime comum ou se estamos subestimando ou superestimando essa relação entre um e outro. A análise foca três atividades criminais violentas organizadas: (i) o "jogo do bicho"; (ii) os "comandos" que controlam e disputam territórios de venda a varejo de drogas e outras mercadorias ilícitas; (iii) as "milícias", que disputam com os "comandos" o controle desses territórios, com vistas a impor a venda de proteção aos seus moradores. Concluímos defendendo que o modelo das milícias, como também ocorreu com o jogo do bicho e com o tráfico de drogas, todos surgidos no Rio de Janeiro, vem sendo adotado em cidades de outros estados brasileiros, nacionalizando formas de organizações criminosas que têm no recurso à violência uma de suas principais características. A dinâmica de funcionamento dessas organizações depende, primordialmente, de sua constituição como mercados ilegais, em que cada mercadoria explorada - jogo, drogas, armas e proteção - possuem diferentes propriedades como capital. A dinâmica social, a atuação e a violência associados a cada uma dessas atividades, por sua vez, estão ligados a essas propriedades.
This article deals with the relationship between "organized crime" and "common crime" in Rio de Janeiro. Our goal is to define the conditions that would make it possible to respond to questions such as the extent to which organized crime explains the logic of common crime or whether we are under or overestimating the relation between the two. Our analysis looks at three spheres of violent organized criminal activity: (i) organized crime linked to the unofficial lottery called "jogo do bicho"; (ii) the "commandoes" that control and fight over territories where drugs and other illegal merchandise are retailed and iii) the militias that fight with "commandoes" over the control of these territories, as they seek to impose payment of protection money on inhabitants. We conclude by arguing that the militia model - similarly to what happened earlier in the cases of the drug trade and the "jogo do bicho" ( all three of which originate in the city of Rio de Janeiro) - has been spreading to cities in other Brazilian states, nationalizing forms of organized crime that have the use of violence as one of their major characteristics. The dynamics of these organizations depends primarily on their constitution as illegal markets, in which each commodity that is exploited - lottery, drugs, arms and protection - has different properties as forms of capital. The social dynamic, type of actions and violence associated with each one of the three is, in turn, linked to these properties.
L'article traite des relations entre le « crime organisé » et le « crime commun » à Rio de Janeiro. Son objectif, c'est de définir les conditions pour répondre à des questions comme jusqu'où le crime organisé explique les logiques du crime commun, ou si nous sous-estimons ou surestimons cette relation entre l'un et l'autre. L'analyse souligne trois activités criminelles violentes organisées : (i) le jeu « jogo do bicho » ; (ii) les "comandos", qui contrôlent et se disputent pour des territoires de vente au détail de drogues et d'autres marchandises illicites; (iii) les milices, qui se disputent avec les "comandos", pour le contrôle de ces territoires, avec l'intention d'imposer la vente de protection à leurs habitants. Nous concluons en soutenant que le modèle des milices, tout comme s'est produit avec le « jogo do bicho » et le trafic de drogues, tous surgis à Rio de Janeiro, est adopté dans d'autres villes, dans d'autres régions brésiliennes, ce qui finit par nationaliser les formes d'organisations criminelles qui ont comme caractéristique le recours à la violence. La dynamique de fonctionnement de ces organisations dépend surtout, de leur constitution autant que « marchés illégaux », où chaque marchandise exploitée - le jeu, la drogue, les armes et la protection - a une propriété différente comme capital. La dynamique sociale, la performance et la violence associées à chacune de ces activités, à leur tour, sont liées à ces propriétés.