Neste artigo, discutimos as dificuldades encontradas na realização de projetos de promoção à saúde entre grupos marginalizados, a partir de questionários e grupos de discussão realizados no trabalho de prevenção da aids entre prostitutas, no Mangue, no Rio de Janeiro (RJ), em 1989, passando pelas histórias de vida das prostitutas da Praça São João, em Niterói (RJ), e pelo movimento de prostitutas do Rio de Janeiro, durante a década de noventa. Na análise dos dados, observamos que, apesar de a saúde pública ver as prostitutas como um "grupo", estas raramente se viam dessa forma. Ou seja, enquanto a meta das agências de promoção à saúde e do movimento de prostitutas era a de construir uma comunidade de prostitutas que pudesse se organizar, lutando por seus direitos e cidadania, a maioria das prostitutas estudadas tinham uma representação negativa da sua atividade e, consequentemente, criavam narrativas que negavam o seu pertencimento ao grupo das prostitutas. Diante desse impasse, fica evidente a necessidade de se pensar o processo de empowerment e de organização comunitária, sempre levando em conta o contexto cultural do grupo em que se quer promover a saúde.
This paper discusses the difficulties that can arise when health promotion projects are developed within marginalized groups. This could be documented using the example of aids prevention among prostitutes. We applied questionnaires and focus group interviews were performed with prostitutes in Mangue, Rio de Janeiro in 1989. Later, during the decade of 1990, we accomplished open interviews with prostitutes who frequented São João Square in Niterói and with the leaders of the prostitutes' movement of Rio de Janeiro. During the analysis of the interviews we observed that although, from a public health point of view, prostitutes are considered as a group, they seldom represent themselves in this way. In other words, while the goal of health promotion agencies and the prostitute' movement is to build a prostitutes' grassroots movement able to organize and fight for prostitutes' rights and citizenship, most of the subjects studied believed that prostitution was an evil activity and consequently created narratives which denied their belonging to the prostitutes' community.