Após ligeira revisão sôbre o problema anátomo-clínico da neurocisticercose em geral, na qual assinalam as reações locais e gerais provocadas pelo cisticerco no sistema nervoso e as formas clínicas mais comuns com que se apresenta a neurocisticercose — formas convulsivas com ou sem perturbações mentais, forma pseudotumoral, forma hipertensiva e forma apoplética — os autores abordam o problema da cisticercose ventricular, chamando a atenção para sua síndrome clínica mais ou menos bem definida, e para a possibilidade do diagnóstico clínico, particularmente com a ajuda do exame do líqüido cefalorraqueano, cujas alterações constituem síndrome bem definida. O problema da terapêutica cirúrgica é encarado à base de 4 observações pessoais e da revisão da literatura, concluindo-se por certo pessimismo quanto a seus resultados, por dependeram êles do diagnóstico precoce da afecção, antes que o cisticerco determine conseqüências anatômicas irreversíveis no encéfalo, e da eventualidade, pouco freqüente, de não haver outros cisticercos cerebrais. De seus casos, o primeiro apresentava cisticerco do IV ventrículo isolado, e aracnoidite crônica na fossa posterior, motivo pelo qual, após a extirpação do cisticerco, ainda o quadro clínico continuou a evoluir com surtos hipertensivos e períodos de remissão de sintomas, até a agravação final e morte 20 meses após o ato operatório; o segundo apresentava cisticerco único aderente ao assoalho do IV ventrículo, provocando grande reação focal e oclusão quase total da luz ventricular, o que determinou síndrome de hipertensão superaguda, que levou o paciente à morte; o terceiro apresentava cisticerco isolado e livre do IV ventrículo mas, também, distúrbios mentais provavelmente decorrentes de cisticercose múltipla ou da meningoencefalite cisticercótica, motivo pelo qual a retirada do cisticerco curou a síndrome focal, mas persistiram, em evolução por surtos, os distúrbios mentais; finalmente no quarto caso, um cisticerco racemoso do IV ventrículo, com aracnoidite abrangendo formações do ângulo pontocerebelar, foi igualmente removido com sucesso imediato para a sintomatologia de bloqueio da circulação liquórica. Neste caso não foi possível o seguimento pós-operatório por mais de 15 dias, pois o paciente perdeu contacto com a Clínica.
The AA. present a general view of the anatomo-clinical problem of the neurocysticercosis. There are some consideration on the local and general reactions of the cysticercos on the central nervous system. They classified the clinical aspects on the following groups: convulsive, with or without mental disturbances, pseudo-tumoral, hypertensive, apopletic and ventricular. The ventricular group is characteristic and with the spinal fluid it is possible a clinical diagnosis. The surgical therapy is discussed based on 4 cases and the general conclusion as results is pessimistic. The AA. believe that the result will depend of an early diagnosis, before the local and general reaction appears, and of the rare possibility of an isolated cysticercus. The first case was a typical 4th. ventricle syndrome, but at operation was found cysticercus in the 4th. ventricle, plus arachnoiditis of posterior fossa; follow-up showed periods of intracranial hypertension and remission until death 20 months after operation. The 2nd. case showed an acute hypertension with sudden death and at necropsy only one cysticercus in the 4th. ventricle with intensive local reaction was found. The 3rd case with cysticercrdus in the 4th. ventricle, but mental signs due probably to a multiple cysticercosis, or meningoencephalitis, had improvement only of the hypertensive signs. The 4th. case - cysticercosis of 4th. ventricle plus arachnoiditis of the cisterna lateralis - had improvement of the hypertensive signs, but no possible follow-up.