O curso de vida apresenta-se segmentado em diferentes fases. Porém, nas três últimas décadas - pelo menos em nível europeu - diversos estudos têm acentuado uma crescente variabilidade na determinação das fronteiras que as separam. No que respeita à juventude é certo que continuam a ser valorizados determinados marcadores de passagem para a chamada idade adulta, como é o caso da obtenção de um emprego, do casamento ou do nascimento do primeiro filho (European Social Survey de 2006/2007). Entretanto, as trajectórias de vida bloqueiam frequentemente encruzilhadas de impasse, determinadas por variáveis societais, apesar de os arranjos de transição cada vez mais se alinharem com estratégias de autonomização, na esteira das teses da individualização. Em sociedades de outrora, existiam ritos de passagem que demarcavam, de modo preciso, a transição dos jovens para a idade adulta. Hoje em dia, muitos desses ritos desapareceram embora alguns ainda sobrevivam. É o que acontece com a chamada festa dos rapazes, rito de iniciação à idade adulta que ocorre em muitas aldeias do nordeste de Portugal, onde a identidade masculina é celebrada de forma festiva, transgressora, orgiástica. Pesquisas etnográficas sobre a festa dos rapazes sugerem-nos que a complexidade do moderno não é redutível a manifestações do passado despidas de suas novas valências significativas. O objectivo deste artigo é, justamente, o de discutir como um antigo rito de expressão localizada se enfrenta a aragens da modernidade. A conclusão entreabre portas para a possibilidade de, entre os jovens, os ritos de passagem estarem a ceder lugar a ritos de impasse.
The course of life is segmented into different stages. However, in the last three decades - at least as far as Europe is concerned - many studies have highlighted an increasing variability in the determination of the frontiers that separate them. Regarding youth, some markers of the passage to the so-called adult life continue to be valued, like getting a job, marriage or the birth of the first child (European Social Survey, 2006/2007). Nevertheless, life trajectories frequently block impasse crossroads, which are determined by societal variables, although the transition arrangements are becoming more and more aligned with autonomy strategies, similarly to the individualization theses. In former societies, there were rites of passage that delimited, in a precise way, the youths' transition to adult life. Nowadays, many of these rites have disappeared, although some still exist. This is the case of the so-called boys' party, a rite of initiation to the adult life that takes place in many towns in the Northeast of Portugal, where the masculine identity is celebrated in a festive, transgressive, orgiastic way. Ethnographic research into the boys' party suggests that the complexity of the modern cannot be reduced to manifestations of the past stripped of their new significant validities. The aim of this paper is to discuss how an old rite of localized expression faces the air of modernity. The conclusion suggests the possibility that, among youths, the rites of passage are giving way to rites of impasse.