Resumo Introdução: Três anos após o início da pandemia SARS-CoV-2, a segurança e eficácia da vacinação COVID-19 em doentes com cirrose hepática (CH) permanecem controversas. Pretendemos avaliar a segurança, respostas imunológica e clínica de doentes com CH às vacinas contra a COVID-19. Métodos: Estudo prospetivo multi-cêntrico em adultos com CH elegíveis para vacinação contra a COVID-19, sem infeção prévia conhecida. Os doentes foram acompanhados até ao momento da dose de reforço, infeção SARS-CoV-2 ou falecimento. Avaliámos os títulos de anticorpos IgG da proteína-Spike SARS-CoV-2 às 2 semanas, 3 meses e 6 meses. Títulos de anticorpos <33.8 BAU/mL foram considerados seronegativos e <200 BAU/mL subótimos. A ocorrência de infeção pós-vacinação e respetiva gravidade foram registadas. Resultados: Incluímos124 doentescom CH, 81% homens, com idade média de 61 ± 10 anos e um seguimento médio de 221 ± 26 dias. A causa mais prevalente de cirrose foi o álcool (61%) e 7% dos doentes faziam terapêutica imunossupressora por hepatite autoimune. Existiam sinais de hipertensão portal em 69%, descompensação prévia em 42% e classificação de Child-Pugh-Turcotte B/C em 21%. O tipo de vacina administrada foi: BNT162b2 (n = 59, 48%), ChAdOx1nCoV-19 (n = 45, 36%), mRNA-1273 (n =14, 11%) e Ad26.COV2.S (n = 6, 5%). Foram reportados efeitos adversos pós-vacinação em 18% dos participantes, nenhum deles grave. Os títulos medianos [Q1; Q3] de anticorpos foram 1.185 [280; 2.080] BAU/mL às 2 semanas, 301 [72; 1.175] BAU/mL aos 3 meses e 192 [49; 656] BAU/mL aos 6 meses. Observámos respostas humorais seronegativas e subótimas em 8% e 23% dos doentes às 2 semanas, 16% e 38% aos 3 meses e 22% e 48% aos 6 meses. A idade avançada e vacinas de vetor de adenovírus foram os únicos fatores associados a respostas seronegativas e subótimas às 2 semanas e 3 meses (p < 0.05) em análise de regressão logística multivariada. Onze doentes (9%) desenvolveram infeção SARS-CoV-2 durante o seguimento (3.8-6.6 meses pós vacinação), todos com doença ligeira. Não observámos diferenças relativamente ao tipo de vacina, apresentando 73% deles títulos de anticorpos >200 BAU/mL aos 3 meses. Conclusões: A vacinação contra a COVID-19 em doentes com CH foi segura, sem efeitos adversos graves. As respostas humoral e clínica foram semelhantesàsreportadasnapopulação geral. Aresposta humoral foi afetada negativamente pela idade avançada e vacinas de vetor de adenovírus e não apresentou relação com a gravidade da doença hepática.
Abstract Introduction: Three years after the beginning of the SARS-CoV-2 pandemic, the safety and efficacy of COVID-19 vaccination in liver cirrhosis (LC) patients remain controversial. We aimed to study the safety, immunological, and clinical responses of LC patients to COVID-19 vaccination. Methods: Prospective multicentric study in adults with LC eligible for COVID-19 vaccination, without prior known infection. Patients were followed up until the timing of a booster dose, SARS-CoV-2 infection, or death. Spike-protein immunoglobulin G antibody titers for SARS-CoV-2 at 2 weeks, 3 months, and 6 months postvaccination were assessed. Antibody titers <33.8 binding antibody units (BAU)/mL were considered seronegative and <200 BAU/mL suboptimal. Postvaccination infection and its severity were registered. Results: We included 124 LC patients, 81% males, mean aged 61 ± 10 years, with a mean follow-up of 221 ± 26 days. Alcohol was the most common (61%) cause of cirrhosis, and 7% were under immunosuppressants for autoimmune hepatitis; 69% had portal hypertension, 42% had a previous decompensation, and 21% had a Child-Pugh-Turcotte score of B/C. The type of vaccine administrated was BNT162b2 (n = 59, 48%), ChAdOx1nCoV-19 (n = 45, 36%), mRNA-1273 (n = 14, 11%), and Ad26.COV2.S (n = 6, 5%). Eighteen percent of the patients reported adverse events after vaccination, none serious. Median [Q1; Q3] antibody titers were 1,185 [280; 2,080] BAU/mL at 2 weeks, 301 [72; 1,175] BAU/mL at 3 months, and 192 [49; 656] BAU/mL at 6 months. There were seronegative and suboptimal antibody responses in 8% and 23% of the patients at 2 weeks, 16% and 38% at 3 months, and 22% and 48% at 6 months. Older age and adenovirus vector vaccines were the only factors associated with seronegative and suboptimal responses at 2 weeks and 3 months (p < 0.05) in a multivariable logistic regression analysis. Eleven patients (9%) were infected with SARS-CoV-2 during follow-up (3.8-6.6 months postvaccination), all with mild disease. There were no differences regarding the type of vaccine, and 73% had antibody titers >200 BAU/mL at 3 months. Conclusion: COVID-19 vaccines in patients with LC were safe, without serious adverse events. The humoral and clinical responses were similar to the reported for the general population. Humoral response was adversely impacted by older age and adenovirus vector vaccines and unrelated to the liver disease severity.