Resumo: Introdução: O objetivo do estudo foi conhecer as concepções de violência entre acadêmicos dos cursos de Medicina do estado da Bahia, suas vivências com o fenômeno e orientação quanto ao encaminhamento dos casos. Métodos: Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada com 20 graduandos de cursos de Medicina de instituições públicas do estado da Bahia. Coletaram-se os dados por meio de um formulário eletrônico via web, disponibilizado no Google Forms, e os discentes foram informados sobre o endereço da página por meio de e-mail. Resultados: A maioria dos discentes afirmou que o tema violência contra a criança foi abordado durante a graduação. Concepções compartilhadas pela maioria dos discentes sobre o tema estão relacionadas às definições da violência como agravos físicos infringidos às vítimas, porém identificaram-se, além de aspectos subjetivos, definições mais amplas da percepção social, contemplando diferentes dimensões do fenômeno. Os sentimentos vivenciados em face de situações de violência mais frequentemente citados foram impotência, medo, tristeza, despreparo, compaixão, empatia, revolta e raiva. Para os discentes, as dificuldades encontradas na abordagem das vítimas da violência decorrem da falta de preparo na formação e de posicionamentos relacionados ao próprio médico, como medo de envolvimento e responsabilização. Mencionaram-se ainda características inerentes às crianças e descrença nos órgãos de proteção. Conclusão: Embora os discentes tenham relatado contato com o tema durante a graduação, a maioria avaliou a formação como insuficiente. O despreparo profissional para a abordagem de temas médico-sociais, a exemplo da violência, tem sido atribuído em parte ao viés biologicista da formação médica. Nesse sentido, destaca-se a compreensão da violência como fenômeno essencialmente sócio-histórico, em detrimento das diferentes dimensões do agravo que implicam o processo saúde-doença. Nessa perspectiva, tal viés obscurece o reconhecimento das diversas manifestações da violência como objeto do trabalho em saúde, sugerindo a necessidade de uma abordagem ampliada na formação médica que possa contemplar a complexidade do tema.
ABSTRACT: Introduction: The objective of the study was to learn about the concepts of violence among medical undergraduate students in the state of Bahia, their personal experiences with the phenomenon and advice regarding case referral. Method: a qualitative research was carried out with 20 undergraduate medical students from public institutions in the state of Bahia. The data were collected via the web through an electronic file made available by Google Forms. The students were informed about the page address through an e-mail. Results: Most of the students said that the topic of “Violence against Children” was addressed during their undergraduate years. Shared conceptions by most of the students on the subject are related to the definitions of violence as physical injuries inflicted on the victims, but broader definitions of social and subjective perception, encompassing different dimensions of the phenomenon were also identified. The most frequently cited feelings experienced in situations of violence were the following: helplessness, fear, sadness, unpreparedness, compassion, empathy, anger and rage. The difficulties that the students encountered in approaching the victims of violence stem from the lack of preparation in the training and from the positions related to the physicians themselves, such as fear of involvement and accountability. The inherent characteristics of children and distrust in protective services were also mentioned. Conclusion: Although the students reported having contact with the topic during graduation, most of them evaluated the training as insufficient. The lack of professional preparation to approach the medical-social issues, such as violence, has been partially attributed to the biologicist bias of the medical training. In this sense, we highlight the understanding of violence as an essentially social and historical phenomenon, to the detriment of the different dimensions of the illness that imply in the health-disease process. From this perspective, this bias obscure the recognition of the different manifestations of violence as objects of healthcare work, suggesting a need for a broader approach in medical education, which can help to contemplate the complexity of the subject.