Introdução: O aneurisma da aorta abdominal (AAA) constitui um importante problema de saúde pública. Apresenta, na sua história natural, uma fase de expansão assintomática, com oportunidade de tratamento eletivo, que se tem demonstrado efetivo e de baixo risco, comparativamente à fase sintomática. Esta entidade clínica associa-se a uma elevada mortalidade, a qual pode ser reduzida significativamente perante tratamento cirúrgico eletivo. Descrição do caso: Doente do sexo masculino, de 66 anos, licenciado, atualmente reformado, casado e com duas filhas, pertencente a uma família funcional, nuclear, na fase VIII do Ciclo de Duvall e à classe média de Graffar. Com antecedentes pessoais de diversos fatores de risco cardiovasculares, medicado em conformidade, recorre à consulta aberta da Unidade de Saúde Familiar, em dezembro de 2015, por apresentar náuseas desde há dois dias e sensação de peso e palpitações no abdómen com cerca de dois meses de evolução, descrevendo como «parece que tenho o coração na barriga». A única alteração ao exame objetivo diz respeito a uma tumefação abdominal pulsátil com cerca de 7cm de diâmetro. Por suspeita de AAA foi referenciado ao serviço de urgência (SU). No SU foi confirmada a presença de AAA justa-renal, com cerca de 9,9cm de diâmetro. Foi internado para decisão clínica, tendo sido submetido a tratamento cirúrgico do aneurisma. O pós-operatório decorreu com intercorrências, nomeadamente trombose da artéria renal direita e consequente hipoperfusão do rim direito (com tentativa de repermeabilização sem sucesso) e hemorragia digestiva por úlcera duodenal. Em consultas de seguimento pelo médico de família (MF), após a alta, apre-sentava-se muito debilitado física e psiquicamente. Procedeu-se ao acompanhamento, com ênfase no suporte emocional e familiar, à reavaliação das condições clínicas que surgiram durante o internamento, bem como ao reajuste da medicação habitual. Comentário: A possibilidade da deteção precoce do AAA, através de rastreio, surge como uma medida capaz de modificar a sua evolução natural. Assim, este caso pretende refletir sobre a efetividade do rastreio, na presença de fatores de risco. Pretende igualmente realçar a importância do MF no diagnóstico precoce de um problema grave e na gestão das complicações físicas e psicológicas após a alta de um internamento hospitalar.
Introduction: Abdominal aortic aneurysm (AAA) is an important public health problem. During its natural history, it presents an asymptomatic phase of expansion, in which elective treatment opportunity has proven to be effective and of low risk, compared to being performed during the symptomatic phase. This clinical entity is associated with a high mortality, which may be significantly reduced by elective surgery. Description: 66-year-old male, graduated, currently retired, married and with two daughters, belonging to a functional nuclear family, in phase VIII of Duvall cycle, and middle class of Graffar. Personal history of several cardiovascular risk factors, treated accordingly. The patient went to the Family Health Unit in December 2015, presenting with nausea for two days and a feeling of heaviness and palpitations in the abdomen, that he had been feeling for the past two months, and describing it as «it seems that I have my heart in my belly». The only abnormality in the physical examination was a pulsatile abdominal swelling with approximately 7cm of diameter. Due to suspicion of an AAA, the patient was referred to the Emergency department, and the presence of a justarenal AAA, with a diameter of 9.9cm, was confirmed. He was admitted and underwent surgical treatment of the aneurysm. Postoperative period progressed with complications, including thrombosis of the right renal artery and consequent hypoperfusion of the right kidney (with unsuccessful attempt of permeabilisation), and digestive hemorrhage due to duodenal ulcer. After discharge, during follow-up by the family physician, the patient was very weak, both physically and psychically. Follow-up visits focused on providing emotional and family support, reassessing the clinical conditions that arose during hospital admission, as well as adjusting the usual medication. Commentary: The possibility of early detection AAA through screening appears as a measure capable of modifying its natural evolution. Thus, this is a thought-provoking case on the effectiveness of screening, in the presence of risk factors. It also aims to highlight the importance of the family physician in the early diagnosis of a serious problem, and on the management of physical and psychological complications after hospital discharge.