O debate brasileiro sobre humanização da atenção à saúde tem valorizado uma abordagem integral da saúde. Tal orientação requer que os profissionais revejam suas atitudes e concepções, excessivamente centradas em um enfoque biomédico. Este ensaio é uma reflexão sobre um processo de discussão em torno do trabalho da equipe multiprofissional de um ambulatório especializado em HIV/Aids na cidade de São Paulo, tendo por norte as relações entre cuidado e humanização das ações de saúde. Identificou-se que a equipe considerava humanizada a atenção prestada, por haver escuta e resposta a diferentes necessidades dos usuários, além do controle da infecção pelo HIV. Levantou-se, entretanto, que tais necessidades não chegavam a ser incorporadas ao projeto de atenção propriamente dito, mas eram tomadas apenas na condição de obstáculos à adesão às medidas terapêuticas prescritas, recebendo, muitas vezes, respostas de caráter informal, dependentes de iniciativas de cunho pessoal, e motivadas por sentimentos compassivos. Ressalta-se a relevância da dimensão afetiva no encontro entre profissionais e usuários, concluindo-se pela importância de entender a humanização da atenção à saúde como um processo de diálogo, que garanta e estimule uma crescente integração entre as finalidades técnicas do trabalho e os projetos de vida dos usuários.
The Brazilian debate on humanization has stressed the relevance of a comprehensive approach to health. This approach requires that professionals revisit their attitudes and conceptions, straightly oriented in a biomedical sense. This reflexive essay examines a discussion process conducted by a multidisciplinary team of an HIV/Aids ambulatory in the city of São Paulo, with a view to the relationship between care and humanization of health practices. It was identified that the team considered that care provided by them was "humanized", once diverse patients needs, beyond those strictly related to the clinical control of HIV infection, were actively considered and responded to. Objections were made nonetheless, that those needs were not effectively incorporated into health care process, remaining just as obstacles to the adherence of patients to the therapeutic prescriptions, and informally responded to by means of staff personal initiatives and compassionate feelings. The discussion highlights the relevance of affectionate dimension in the encounters of health professional and services users, concluding by the importance of understanding humanization of health assistance as a dialogue process between technical aspects of health work and the users’ life projects.