RESUMO O grande número de ligas acadêmicas na Escola Paulista de Medicina (EPM) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) leva a questionamentos acerca de seu significado para os estudantes e do papel que desempenham na formação médica, assim como preocupações sobre distorções no ensino, especialização precoce, relevância social e inserção no Sistema Único de Saúde (SUS). Para tentar elucidar essas questões, este estudo, de caráter qualitativo, constou de análise documental dos estatutos das ligas; análise de conteúdo dos depoimentos dos alunos participantes das ligas, colhidos em quatro grupos focais e em entrevistas com dois docentes preceptores de ligas. Foram encontradas 45 ligas atualmente em funcionamento na EPM–Unifesp, a grande maioria ligada a uma especialidade médica. Os principais motivadores para participação nas ligas foram a busca por prática, vontade de conhecer melhor uma especialidade, complementação de conhecimentos e necessidade de reconhecimento como adulto profissionalmente responsável. Tanto alunos quanto professores reconhecem que, por vezes, as ligas ocupam-se de reparar falhas da graduação. Das ligas estudadas, poucas têm atuação em pesquisa ou extensão, priorizando aulas teóricas e atendimentos, supervisionados por docentes, médicos não docentes, residentes ou alunos de anos mais adiantados. Os preceptores se encarregam principalmente da parte organizacional. As ligas podem reproduzir modelos da graduação, isto é, sobrecarga de atividades, aulas expositivas e ruins. Quanto à inserção no SUS, as ligas poderiam ser um espaço de capacitação para nele atuar. Apesar de estudantes afirmarem que pensam em fazer residência na área da liga, os docentes discordam de que elas levem a uma especialização precoce. Considera-se que, ao mesmo tempo em que preenchem lacunas e expectativas em relação ao curso, as ligas têm limitações quanto ao impacto de suas atividades na formação e relevância social, podendo subverter a estrutura curricular e também favorecer a especialização precoce. Recomenda-se maior atenção por parte da Câmara de Graduação da EPM às ligas acadêmicas no que se refere a número de ligas existentes, processo seletivo, atividades desenvolvidas, docentes envolvidos e objetivos explicitados, no sentido de avaliar o papel das ligas no currículo e na formação médica.
ABSTRACT The rising number of students leagues in the Escola Paulista de Medicina of the Universidade Federal de São Paulo (EPM–Unifesp) leads to questions about their meaning to students and their role in medical training, as well as concerns about learning distortions, early specialization, social relevance, and insertion in the Brazilian national health system, called the Sistema Único de Saúde (SUS). In order to try and clarify these questions, this qualitative study analyzes the statues of the leagues, and the statements of tutors and students, gathered by means of four focal groups with students and two interviews with the tutors. We found 45 leagues currently running at the EPM–Unifesp, most of them associated with a medical specialty. The main motivators for joining in a league were: the search for practical activities, the desire to gain more experience of a particular specialty, the desire for more knowledge, and the need to be recognized as a responsible adult. Of the leagues studied, few conducted research or university extension activities, focusing on treatment and theoretical classes, supervised by professors, non-teacher physicians, resident doctors, or more senior students. The tutors are in charge of the organizational aspects. The leagues can reproduce graduation models, such as an overburdoning with activities and poor expository classes. Concerning insertion in the SUS, the leagues could be a means of training future SUS professionals. Although students claim that they intend to specialize in the league’s field, the tutors disagree that they lead to early specialization. We consider that while leagues fill gaps in the learning and expectations of the course, they are limited in regards to the impact of their activities on medical training and their social relevance. They can subvert the curricular structure and favor early specialization. We recommend that universities pay closer attention to students leagues, observing their number, selection process, activities, tutors involved and explicit objectives, with the purpose of evaluating their roles in the curriculum and medical training.