Este artigo propõe-se a discutir as possibilidades e os limites da intervenção social e da satisfação no trabalho dos profissionais da saúde, buscando compreender em que, nos limites do capitalismo, eles se aproximam dos trabalhadores da educação e dos trabalhadores diretamente produtivos. Para tanto, o texto discute a dupla face do trabalho, enquanto produtor de valores de uso e de valores de troca, relação dialética que compõe uma totalidade por contradição. É essa dupla face que, ao mesmo tempo, nega o humano, ao gerar relações sociais alienantes, e o produz, ao afirmá-lo enquanto indivíduo e enquanto humanidade. No capitalismo contemporâneo, marcado pela acumulação flexível, as demandas por ampliação da qualificação dos profissionais da saúde e da educação acentuam esta contradição com base em uma característica muito peculiar do seu trabalho: a sua natureza não-material. A partir desta discussão, o artigo demonstra que, tal como ocorre na educação, a progressiva mercantilização dos serviços na área da saúde, com suas peculiares formas de organização e gestão, se por um lado acentua a dimensão do sofrimento no trabalho, por outro lado também pode potencializar, diante do caráter práxico do trabalho, o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento das desigualdades sociais.
The objective of this article is to discuss the possibilities and the limits of social intervention and of job satisfaction in the work done by health professionals. Within the boundaries of capitalism, it tries to understand what makes the working conditions of health workers, educational workers and production workers similar, and why. For this purpose, the text discusses the double face of work as a producer of both use values and exchange values, a dialectic relationship that makes up a totality by contradiction. It is this double face that simultaneously denies the human character of the worker, when it creates alienating social relations, and produces it, when it considers him an individual and part of humanity. In contemporary capitalism, marked by flexible accumulation, the demands for better-qualified health and educational workers make this contradiction even greater due to a very peculiar characteristic of their work: its non-material nature. Based on this discussion, the article shows that, as it happens in education, if the progressive commercialization of the health services - with its peculiar forms of organization and management - on the one hand, accentuates the dimension of suffering at work, on the other, due to the practical character of the work, it permits the development of strategies in the struggle against social inequalities.