Propõe-se uma discussão conceitual acerca dos discursos dos atores sociais do campo da Alimentação e Nutrição ao apresentar conflitos existentes, estratégias discursivas em jogo e lutas por legitimidade no espaço acadêmico. O eixo principal da argumentação se dá a partir do conceito de biopoder, de Michel Foucault, que apresenta a medicina como um saber-poder que incide, ao mesmo tempo, sobre o corpo e a população, sobre o organismo e os processos biológicos, produzindo resultados disciplinares e efeitos regulamentadores disseminados por toda a sociedade. A partir desse conceito, argumenta-se que os discursos produzidos no campo colocam, frente a frente, interesses hegemônicos e contra-hegemônicos, disputas políticas travestidas de discussões epistemológicas "abstratas", estratégias de sedução, normatização e medicalização da vida. Tais discursos traduzem instâncias de poder em confronto, interesses econômicos, conflitos estruturais, embates políticos. São apresentados novos elementos para pensar a produção de conhecimento para profissionais da Nutrição e da percepção do ato alimentar para além de parâmetros nutricionais, biológicos, biomédicos e epistemológicos que, na sua essência, são nitidamente políticos, pois traduzem tensões entre estruturas conceituais que também operam no interior do campo. Postula-se que não há saúde ou nutrição em abstrato, como campos neutros, desconectados da realidade; essas dimensões fazem parte da vida material, concreta e estão carregadas de valores simbólicos, culturais e subjetivos. Pensar a Nutrição apenas em seus aspectos nutricionais é empobrecê-la e enfraquecê-la, e essa discussão, que parece ser "meramente conceitual", traz à tona questões importantes que precisam ser discutidas pelos profissionais do campo da Alimentação e Nutrição.
A conceptual discussion on the discourses of the social actors in the field of Food and Nutrition is proposed, presenting the existing conflicts, discursive strategies and struggles for academic legitimacy. The line of argumentation follows the biopower concept developed by Michel Foucault, who presents medicine as a knowledge-power focused at the same time on the body and the population, the human body and the biological processes, producing disciplinary results and widespread regulatory effects on society. Based on this concept it is argued that the discourses produced in the field put hegemonic and counter-hegemonic interests in confrontation, political disputes disguised by "abstract" epistemological discussions, strategies to lure consumers, life standardization and medicalization. Such discourses translate instances of power in dispute, economic interests, structural conflicts, political impasses. New elements are presented for the production of knowledge for professionals of Nutrition and for the perception of the feeding act beyond the nutritional, biological, biomedical and epistemological parameters, which in essence are clearly political once they convey tensions between the conceptual structures that also operate in the interior of the field. It is assumed that there is no such health or nutrition as abstract, neutral fields, detached from reality; such dimensions are part of the material, concrete life and carry symbolic, cultural and subjective values. Considering only the nutritional aspects of nutrition is to impoverish and weaken it, and the discussion that seems to be "merely conceptual" brings to light important issues that the professionals in the field of Food and Nutrition should address.