Resumo Analisando três casos de monarquismo popular no final da Colônia e no Império brasileiro, este artigo sustenta que o monarquismo popular constituía um elemento importante, embora nem sempre reconhecido, da política popular. O apoio popular à monarquia e os esforços dos integrantes das classes baixas para se associarem aos reis e aos imperadores eram, com frequência, vistos como ameaças radicais aos detentores do poder. Baseado nos trabalhos de estudiosos da cultura e da política popular brasileira, manuscritos, periódicos e observações de estrangeiros, este artigo focaliza no costume, do final da época colonial, das irmandades negras em eleger reis (e outros indícios de visões afro-brasileiras da monarquia), na Revolta dos Cabanos em Pernambuco (1832-1835), e na onda do apoio popular à monarquia que varreu o Brasil nos dezoito meses entre a Abolição da escravidão (13 de maio de 1888) e a proclamação da República (15 de novembro de 1889). Cada um desses episódios demonstra como a compreensão popular da monarquia com frequência estruturava demandas radicais.
Abstract Examining three instances of popular royalism in late-colonial and imperial Brazil, this article argues that popular royalism constituted an important, if not always acknowledged, element of popular politics. Popular support for the monarchy and the efforts of members of the lower classes to associate with kings and emperors were frequently perceived as radical challenges to those who held power. Based on the work of scholars who have examined Brazilian popular culture and politics, archival sources, newspapers, and foreigners’ observations, this article focuses on the late-colonial custom of electing black kings in brotherhoods (and other indications of Afro-Brazilian understandings of monarchy), the 1832-1835 Cabanos Rebellion in Pernambuco, and the wave of popular support for the Brazilian monarchy that swept the country in the eighteen months between slavery’s abolition (13 May 1888) and the republic’s proclamation (15 November 1889). Each of these episodes demonstrates how popular understandings of monarchy frequently framed radical claims.