A fragilidade da vida humana e a fragilidade da vida social e coletiva são os objetos históricos da medicina e das ciências sociais, respectivamente. Este artigo examina as articulações entre esses dois aspectos da fragilidade da vida, através das relações entre ciências sociais, medicina e saúde pública, em seu histórico de ocasional cooperação mas também de confrontamento e ignorância recíproca, com base em casos históricos - especificamente franceses, ingleses e americanos. Enquanto que na medicina se observa interesse precoce pelos aspectos sociais do adoecer - mesmo que sem maiores conseqüências a longo prazo - nas ciências sociais, exceção feita a Mauss, só após a Segunda Guerra Mundial surgem estudos sistemáticos sobre a saúde, em parte vinculados à implantação de sistemas de proteção social em muitos países no pós-guerra. Em uma conjuntura posterior, de retração econômica e forte crítica social, já na década de setenta do século passado, desenvolve-se na França a sociologia da saúde, dando porém preeminência ao "mercado da saúde" e relegando a reflexão sobre a fragilidade da vida a um plano secundário. Mais recentemente, ao final do último século, a epidemiologia social é resgatada do limbo, enfocando mais uma vez a fragilidade da vida como a um tempo corporal e social, buscando maior aproximação com as ciências sociais. Estas têm uma contribuição fundamental para o campo da saúde pública, analisando sistemas de cuidados médicos e o acesso aos mesmos, o impacto social da fragilidade corporal ou ainda o sentido atribuído pelos indivíduos à experiência da doença. É, por fim, sobretudo na identificação de problemas sociais ligados à saúde de pessoas e populações, demandando ação política, que a contribuição das ciências sociais é fundamental.
The frailty of the human life and the frailty of the social and collective lives are the historical objects of medicine and the social sciences, respectively. This paper examines the connections between those two aspects of the frailty of life, through the relationships between the social sciences, medicine and public health, in their history of occasional cooperational but also of confrontation and mutual ignorance, based on historical cases - namely, French, English and American. Whereas in medicine there was an early interest on the social aspects of diseases - even though it had no lasting consequences - in the social sciences, Mauss excepted, it is only after the second world war that systematic studies about health are produced, partly linked to the establishment of systems of social protection in many countries in the aftermath of the war. In a later conjuncture, of economical retraction and strong social criticism, in last century's seventies, the sociology of health is developed in France, giving prominence to the "health market" and relegating the reflection on the frailty of life to a secondary plane. More recently, at the end of the last century, social epidemiology was rescued from the limbo, once more focusing the frailty of life as both a corporal and social issue, reaching for a closer cooperation with the social sciences. The latter have a key contribution to public health, analyzing health care systems and the access to them, the social impact of the frailty of the body or the meaning attributed by individuals experiencing it as well. It is, finally, foremost in identifying social problems linked with the health of individuals and populations, demanding in turn political action, that the contribution of the social sciences is fundamental.