Nos últimos quinze ou vinte anos, tem-se estabelecido uma espécie de afinidade eletiva entre a epistemologia feminista e diversos tipos de desconstrutivismo pós-moderno, na medida em que ambos questionam a possibilidade de um conhecimento neutro, universal e relativo a sujeitos cujas identidades são concebidas como totalizantes, homogêneas e fechadas. No entanto, ao alertarem para os perigos da supergeneralização e do essencialismo, muitos dos conceitos e das categorias centrais à teoria feminista têm sido colocados sob suspeição, gerando um ceticismo crescente em relação à possibilidade de emancipação via conhecimento. Meu propósito neste artigo é demonstrar que um deslocamento de questões epistemológicas para questões ontológicas, por meio de uma tradição filosófica conhecida como realismo crítico e, em especial, pelo método das explicações constrastivas, pode contribuir para a produção de um conhecimento crítico e emancipatório, sem incorrer em práticas de universalização a priori, supergeneralização e essencialização.
Over the last 15 or 20 years, some sort of elective affinity has been established between feminist epistemology and various kinds of post-modern constructivism. This has been done to the extent that both postures question the possibility of a neutral and universal knowledge relative to subjects that are conceived in terms of totalizing, homogeneous, and closed identities. However, in spelling out the dangers of essentialism and overgeneralizing, many concepts and categories which are central to the feminist theory have been questioned, generating an increasing skepticism about the possibility of emancipatory knowledge. My aim in this paper is to demonstrate that critical realism's replacement of epistemological questions for ontological ones and its method of contrastive explanations may contribute to the construction of a type of knowledge that is both critical and emancipatory. Simultaneously, this is a type of knowledge that avoids practices such as a priori universalization, overgeneralizing, and essentialism.
Depuis 15 ou 20 ans, on a vu se mettre en place une espèce d'affinité élective entre l'épistémologie féministe et les divers genres de déconstruction postmoderne qui questionnent la possibilité d'une connaissance neutre, universelle et relative par rapport à des sujets dont les identités sont conçues comme totalisantes, homogènes et fermées. Néanmoins, en nous alertant sur les dangers de la surgénéralisation et de l'essentialisme, plusieurs des concepts et des catégories centrales à la théorie féministe ont été mis en question, générant un scepticisme croissant par rapport à la possibilité d'émancipation par le savoir. Le but de cet article est de démontrer que le déplacement des questions épistémologiques vers des questions ontologiques, au moyen d'une tradition philosophique connue comme réalisme critique et, en particulier, par la méthode d'explication par contraste, peut contribuer à la production d'un savoir critique et émancipateur tout en évitant le piège de pratiques d'universalisation a priori, de surgénéralisation et d'essentialisme.