O trabalho compara os resultados dos dois inquéritos nutricionais de abrangência nacional realizados no Brasil, quais sejam, O Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF), de 1974-75, e a Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN), de 1989. A comparação indicou uma redução de mais de 60% da prevalência de desnutrição, avaliada através de antropometria. Resultados de inquéritos regionais e o comportamento da mortalidade infantil ao longo do período mostraram-se ambos consistentes com a melhoria do estado nutricional. Observou-se uma tendência de memor redução dos níveis de desnutrição naquelas regiões (Norte e Nordeste) onde as prevalências eram mais elevadas na década de 70, ampliando os diferenciais regionais. A melhoria do estado nutricional infantil é atribuída à elevação da renda familiar na década de 70, e à expansão contínua da cobertura de serviços públicos (saneamento, saúde, educação e programas de suplementação alimentar) nas décadas de 70 e 80, ambas favorecidas pela queda pronunciada observada nos níveis de fecundidade da população. O autores alertam para o fato de que a inexistência de sinais de recuperação econômica, aliada aos cortes nos gastos sociais do governo e a persistência de desiqualdade na distribuição de renda, entre outros fatores, tornam improvável que se repitam nos próximos anos os avanços na situação nutricional observados desde a década de 70.
This paper compares the results of two nationally representative nutritional surveys carried out in Brazil: the "Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF)" (National Survey on Household Expenses), conducted in 1974-77, and the "Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN)" (National Survey on Health and Nutrition), conducted in 1989. The findings point to a reduction of more than 60% in the prevalence of undernutrition, as evaluated by anthropometric parameters. The results from regional surveys and the trends in infant mortality throughout the 1970s and 1980s are consistent with the improvements in nutritional status. Less striking reductions in undernutrition rates were observed in certain regions of the country (e.g., the North and Northeast), where prevalences were higher in the 1970s, resulting in a widening of regional differences. The improvements in child nutrition are attributed to moderate increases in family income, particularly in the 1970s, and to the expansion of sanitation, public health, and educational services, as well as food supplementation programs, which were also favored by a fall in fertility levels. The authors call attention to the fact that the lack of clear-cut indications of economic recovery in Brazil recently, coupled wih cuts in government budgets for social services and the persistence of inequality in income distribution, among other factors, make it unlikely that improvements in nutritional status, as observed in the 1970, will take place in the upcoming years.