Resumo Neste artigo, apresento algumas considerações sobre o emprego da categoria popular royalism para o entendimento do apoio popular aos reis, no Brasil e em Portugal, no contexto de crise dos impérios modernos, entre as décadas de 1820 e 1830. O objetivo é analisar o alinhamento à monarquia por parte de indígenas, mestiços e escravos, no Novo Mundo, assim como de camponeses pobres, bandoleiros e pessoas desenraizadas, na ex-metrópole. Longe de confirmar a interpretação, corrente na historiografia, de que se tratava de uma adesão ingênua, pré-política ou fanatizada aos reis, esse alinhamento representou a possibilidade de ampliação de conquistas por parte dos grupos subalternos. A peculiaridade do caso luso-brasileiro reside no fato de que, tanto a contrarrevolução, representada por D. Miguel, quanto o liberalismo, com D. Pedro, contaram com extenso apoio popular. No Brasil, a figura do Primeiro Imperador, associada ao Antigo Regime por grupos políticos a ele rivais, foi apropriada pelo que se designava à época como classes ínfimas, na luta pela liberdade. Não faltaram, ainda, registros de apoio ao Infante e, depois, ao rei, D. Miguel, em algumas províncias brasileiras. Em Portugal, ainda que o extenso apoio popular ao miguelismo se explique pela natureza repressiva do regime, os setores populares conseguiram explorar, em seu benefício, as contradições de um monarca que carecia de legitimidade interna e internacionalmente.
Abstract The aim of this article is to discuss the use of popular royalism as a category to study popular support for kings, both in Brazil and Portugal, in the context of the crisis of modern empires in the 1820s and 1830s. The purpose is to show how the support of Indians, mixed race people, and slaves for monarchies in the New World, as well as the support of poor peasants and uprooted people in the former metropolis, do not seem to correspond to the current historiographical interpretation of them as naive, pre-political or fanatic adherents to monarchs. On the contrary, the popular support for kings might represent the possibility of enlarging the gains of the subaltern groups. The Luso-Brazilian case is peculiar because both the counterrevolution, represented by D. Miguel, and liberalism, represented by D. Pedro, had broad popular support. In Brazil, the figure of the first emperor, which had been associated with the Old Regime by his political enemies, was appropriated by the underclass in their struggle for freedom. Likewise, there were also indications of support for Prince, later King D. Miguel, in some Brazilian provinces. In Portugal, although broad popular support for Miguelism can be partly attributed to the repressive nature of the regime, the lower classes were able to take advantage of the contradictions of a monarch who lacked internal and external legitimacy in order to achieve their interests.